Nunca praxei e jamais fui praxado. Aliás, sou muito pouco adepto da larga maioria das praxes, não pelo facto de, quando estudante em Coimbra, as mesmas estarem proibidas – resquícios do luto decretado após as lutas académicas de 1969 – mas, sim, devido a não entender – porventura defeito meu - o porquê de tantos e tantos actos e, sobretudo, atitudes, as quais se aproximam muito mais da barbaridade do que algum espírito integrativo.
Hoje, face aos dislates que, um pouco por todo o país, se vão sabendo, tal convicção cada vez mais se arreiga em mim. Aliás, esta minha posição tem-se vindo a fixar desde há uns anos. Quem não se recorda da brutalidade da praxe infligida a um ex-aluna do Instituto Piaget de Mirandela? E da horribilidade, para não dizer bestialidade, das praxes instituídas, ainda há poucos anos, na Escola Superior Agrária de Coimbra, entre tantos outros casos?
Por conseguinte, não foi o caso da estúpida morte de alunos da Universidade Lusófona na Praia do Meco que despertou a minha consciência para tais actos.
Embora entendendo que não é com proibições, i.e., passando do oitenta para os oito, que se resolvem estes assuntos, também sei que não se deve deixar tudo na mesma. Há que averiguar, o mais profundamente possível, o que está na génese de tais nefandos impulsos e, posteriormente, com serenidade implementar legislação específica – até ao momento inexistente, aplicando-se as normas gerais que regem a sociedade – que controle os aludidos desmandos.
Que existem muitos interesses na rectaguarda é um dado adquirido: comerciais, académicos e de outra índole. Todavia, tais não podem, de modo algum, ser impeditivos de se tomarem medidas para impedir a ultrapassagem dos limites do razoável, apesar da contingência da subjectividade que este conceito acarreta.
Já agora, em abono da verdade, não é sério dizer que existe, desde sempre, uma prática praxística no ensino superior, uma vez que apenas Coimbra tem tradições nesta matéria.