Independentemente de concordar ou não – divirjo mais do que aceito, (re)afirmo desde já -, o sector público atravessa uma forte reestruturação, o que implica um impacto inevitável na educação, intensificando a dificuldade de contratação de professores.
Não podemos culpar o sector público pela incapacidade de absorver a totalidade dos profissionais que se licenciam todos os anos em cursos relacionados com a educação. Perante esta impossibilidade, que alternativas podem encontrar os professores? Por um lado, podem posicionar-se no sector privado, apesar de se saber que também aqui as vagas não abundam. Por outro lado, existe sempre o além-fronteiras, à semelhança do que acontece com outros profissionais. Por último, resta a reconversão profissional, sabendo-se que este caminho pode ser desafiante, sobretudo para as pessoas que, durante toda a sua carreira, nunca se colocaram em lugares de conforto.
Não nos podemos esquecer que somos nós quem tem de se adaptar às oportunidades que o mercado laboral oferece e não os projectos que têm de se adaptar a nós.
Estas palavras servem de introdução à realização da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), a que, ontem, estavam obrigados os docentes contratados com menos de cinco anos de serviço e, sobretudo, a celeuma gerada à volta da mesma.
Sendo o direito à greve inquestionável, também não é menos verdade que este direito não pode coartar o dos outros, seja ao trabalho ou, como é o presente caso, à realização de uma prova. Cordões humanos de modo a impedir a entrada de professores e, fundamentalmente, invasões de escolas - acções promovidas pela Fenprof - não são formas legais de manifestação.
À semelhança da manifestação dos polícias, os quais por pouco não invadiram o Parlamento, e que, por isso, ficaram muito mal na fotografia, também aqui os docentes – é favor não confundir a árvore com a floresta – deram uma péssima imagem da classe, uma vez parecerem mais uns arruaceiros do que educadores e formadores dos homens de amanhã. Que belo exemplo deram aos alunos!
Todos sabemos que existe sempre uma resistência à mudança. Aconteceu com os exames do 12º ano, os quais deram em 1995, data do seu início, mega-manifestações de estudantes, para não dizer tumultos. Hoje, tais exames estendem-se, com toda a normalidade, até ao 4º ano e poucos ou nenhuns os colocam em causa. Sucedeu também com a avaliação dos professores: está implantada no terreno e, por muito que seja injusta, incoerente e fortemente subjectiva, encontra-se aceite, senão interiormente, pelo menos formal e tacitamente.
Já agora, sem querer apontar o dedo a quem quer que seja, causa-me muita estranheza haver docentes que, sem qualquer rebuço, avaliam os colegas, com todas as injustiças que este processo acarreta, mas que se recusam a vigiar/corrigir uma prova deste teor. É caso para dizer que, cada vez mais, necessitamos de coerência.
Em jeito de apêndice, acrescento algo que ultrapassa a minha compreensão. Então não é que o PS, no tempo em que Maria de Lurdes Rodrigues governava a 5 de Outubro, altera o Estatuto da Carreira Docente e, à revelia de tudo e de todos, inscreve a realização da aludida PACC. Agora, quando há alguém que concretiza as suas intenções, “aqui d’El-Rei” que não pode ser. Não se trata apenas de aproveitamento político, mas sim de uma enormíssima falta de pudor.