Se existem assuntos que não consigo engolir são os despudorados. Como bem sabemos, nem tudo o que é legal é ético e, por isso, devemo-nos abster de usar os instrumentos ao alcance dessa situação.
Vêm estas palavras por causa de Fernando Ruas, ex-presidente da CM de Viseu e um dos autarcas-modelo do PSD. Se não sabem, ficam a saber: este ex-político, que durante 24 anos governou aquela autarquia, há muito que se reformou, continuando, porém, a usufruir do salário camarário, uma vez que a lei permite que se possa optar. Até aqui, como costumo dizer, “a oeste nada de novo”.
Todavia, o caso muda de figura, quando Fernando Ruas, acompanhado de mais dois dos seus ex-vereadores, solicita o subsídio de reintegração por ter abandonado as funções que até aí ocupava. Ora, este subsídio foi criado para que os governantes que o deixassem de o ser, pudessem fazer face às despesas enquanto aguardavam por nova colocação, prorrogativa que, aliás, nunca concordei e que, entretanto, foi extinta em 2005, mas que permitiu que os ex-políticos já com direitos adquiridos pudessem usufruir de tal.
Como é óbvio, as perguntas sacramentais impõem-se: mas Fernando Ruas está a guardar a reintegração? E onde e em que posto de trabalho? Será que estar dependente da Caixa Geral de Aposentações é ocupação laboral?
E pregam estes a moralidade e os bons costumes? Com situações destas e outras que lhe sucederão, um pouco por todo o lado, não nos podemos admirar do modo como o país está. Depois da enorme contribuição para o défice público, que foram a construção de rotundas e chafarizes pelas câmaras municipais, ainda têm a lata de assim procederem?