Existem assuntos que me aborrecem solenemente. Um deles diz respeito às promessas feitas e não cumpridas. Relativamente a este último, é paradigmático o caso da RTP.
Como os mais atentos devem estar recordados, o PSD prometeu, na última campanha eleitoral para as legislativas, privatizar a RTP, proposta essa plasmada no programa do governo e devidamente ratificada na AR. E o certo é que, durante o consulado de Miguel Relvas, de má memória, fizeram-se várias tentativas nesse sentido, hoje consideradas apenas balões de ensaio. Como é evidente toda a oposição se indignou, tendo, inclusive, o PS afirmado, alto e em bom som, que se o governo fosse adiante com essa iniciativa, quando chegasse ao poder voltaria a nacionalizá-la. Entretanto, o assunto foi deixado para as calendas gregas.
Veio o ministro “maravilha”, o menino bonito da governação, com provas dadas no meio académico e não só – falo, claro está, de Poiares Maduro -, mas que rapidamente percebeu que uma coisa são os livros, as dissertações e oratórias fascinantes, outra, bem diferente, é a realidade do dia-a-dia. E como dizem os nossos amigos brasileiros, eis que “caiu na real” e toca de alterar os pressupostos. Já não se privatizava toda a RTP, que inclui também o universo da RDP, mas unicamente um canal, já que a RTP2 ficaria como canal de serviço público, proposta esta que também foi deixada na gaveta.
Todavia, a novela não terminou por aqui. A última, saída da cabeça do tal ministro prodígio – o mentor dos briefings, que tão bons resultados deram, já que levaram à queda de vários secretários de Estado –, foi de passar todos os canais da RTP para sinal aberto, vulgarmente conhecido como via TDT. Também aqui, segundo parece, a coisa não terá corrido pelo melhor, pelo que, mais uma vez, a brilhante ideia foi colocada de lado.
Resumindo, na falta de ideias e, sobretudo, na ausência de poder para impor uma solução minimamente digna, que resolvesse, de uma vez para sempre, o enorme buraco financeiro que é a RTP, socorre-se do mais fácil, i.e., vai-se ao bolso dos contribuintes, desenlace a que todos anteriormente se valeram.
A Contribuição para o Audiovisual foi criada em 2003, tendo como pressupostos o financiamento, através de uma taxa sobre o consumo de electricidade, da RTP e RDP. Quer isto dizer que, independentemente, de ter ou não televisão/transistor, de ver/ouvir ou não a RTP/RDP, desde que gastasse electricidade aí estava a ser espoliado numa certa percentagem. E assim foi até agora. Só que esta expropriação do que tanto nos custa a ganhar não chegava e vai daí, para não mudar de moda, o actual governo decide aumentar a referida taxa, sem ter em conta a opinião e o gosto dos portugueses.
Interessa alguma coisa que a RTP e a RDP sejam dos meios de comunicação social menos vistos e ouvidos em Portugal? Desde que façam, de vez em quando – sempre também não, pois daria muito nas vistas – uns fretes a este ou a outro governo que esteja no poder é o que importa. Vejam-se os casos de José Sócrates nas noites de domingo, os comentários de Nuno Morais Sarmento e as “conversas em família” de Passos Coelho, em “O país pergunta”, e as dúvidas dissipam-se.