Uma vez que existem muitas pessoas com dificuldade em ler o texto que publiquei no Jornal da Mealhada e cuja digitalização aqui postei, aqui fica o mesmo na sua versão integral.
PSD-Anadia: o fado continua
Creiam que não é fácil escrever estas linhas. Seis anos depois de ter dado o melhor de mim – politicamente falando, como é óbvio - dentro da Comissão Política Alargada do PSD-Anadia, imaginam que a última coisa que gostaria de fazer seria o de alinhavar estas palavras. Todavia, o dever impele-me a fazê-lo.
Mas vamos ao início. Como o Presidente da Comissão Política, Dr. José Manuel Ribeiro (JMR), se deve recordar, quando entrou em rotura com o ainda presidente da Câmara, não fui eu que me ofereci para o apoiar e acompanhar na nova jornada que encetou. Foi ele que me convidou.
Esclarecido este ponto, passamos ao seguinte. Durante estes últimos seis anos, não houve iniciativa em que não estivesse presente, tendo em todas elas sido chamado - sim, o termo é este – a fazer intervenções, já que, segundo diziam, falava bem em público. E o certo é que, sem falsas modéstias, os presentes gostavam e aplaudiam, como foi, por exemplo, a indigitação do JMR ocorrida na Curia. Por outro lado, seria pouco curial esquecer de mencionar os diversos artigos de opinião que publiquei no website do PSD-Anadia, os quais mereceram por parte daquele os mais rasgados elogios, algo que muitos daqueles que hoje estão na primeira linha, jamais fizeram.
Até aqui, como se costuma dizer, tudo bem. O problema começou quando se começaram a perspectivar as eleições autárquicas. Aqueles que antes diziam cobras e lagartos sobre o momento político e, sobretudo, da governação, de um instante para o outro, só não se sentavam ao colo um dos outros porque parecia mal. A dança das cadeiras era tal que, num ápice, a mesa da presidência da concelhia até parecia que tinha encolhido.
Numa determinada reunião, falando das próximas autárquicas, alguém, bajulando o JMR, afirmou que só nos restava uma atitude: colocar nas mãos deste todo o processo de elaboração de listas, i.e., dando-lhe plena carta branca. Se me perguntarem se algum companheiro se opôs ou argumentou da necessidade de votação, responderei que não. Abro um parêntesis para dizer que jamais assisti a qualquer votação, mesmo em assuntos cruciais. Voltando à questão, penso, com toda a franqueza, que, naquele momento, a larga maioria dos presentes não lobrigou o que essa decisão poderia acarretar. Pessoalmente, nunca imaginei que tal proposta colocasse todo – sublinho todo - o processo de formação de listas – assembleias de freguesia, assembleia municipal e câmara - nas mãos de uma única pessoa, mesmo que esta contasse com mais dois ou três amigos e familiares para o ajudar nessa tarefa.
Sobre este ponto, estou plenamente convencido que a grande maioria dos presentes pensou, para consigo, que tal proposta não seria seguida à letra ou, quanto muito, tal passar-se-ia nas localidades longe da sua residência, isto é, naquelas cujos conhecimentos eram diminutos. Concretamente, que não fosse indagado sobre a constituição da lista, por exemplo, à Junta de Freguesia da Moita ou de Avelãs de Cima, apesar de até gostar de ter uma palavra sobre tal, não me admirava. Agora, não ser ouvido sobre a minha própria freguesia é que jamais - desculpem-me a expressão menos prosaica - me passou pela cabeça.
O certo é que foi exactamente isso que aconteceu. Não sei o que ocorreu em todas as freguesias, bem como na elaboração das listas aos restantes órgãos autárquicos. Sei, sim, o que aconteceu em Vilarinho do Bairro e em algumas freguesias vizinhas. E foi aqui que o caldo se entornou.
Em Fevereiro p.p. comecei a ouvir que havia convites a fulano A, B e C para a freguesia de Vilarinho, bem como para outras limítrofes. Que fulano tinha recusado e beltrano tinha aceite, citando-se nomes concretos. De tal facto, por nada saber, dei conhecimento a JMR, tendo este afirmado que tudo não passava de boatos.
Mais tarde, nos inícios de Abril, soube pelos próprios que, no próprio lugar em que vivo, havia pessoas a serem convidadas para integrarem a lista para a respectiva junta. Estas, muito admiradas, vieram ter comigo e indagaram porque não tinha participado na comitiva, já que fazia parte da Comissão Política. Engoli em seco, fiz a mais genuína cara de espanto, e afirmei que tudo desconhecia, ou seja, que todo o processo estava a ser “cozinhado” nas minhas costas. No fundo, era o último a saber.
No próprio dia telefonei ao JMR perguntando do porquê de ter sido colocado à margem de todo o procedimento. Respondeu-me que lhe tinham dado carta branca e, por isso, geria como muito bem entendia a questão. Inquiri, de novo, se, entre outros, o seu sogro, igual membro da Comissão Política, tinha sido ouvido, ao que me replicou que sim. Então, interpelei-o do porquê de ser menos que aquele seu familiar. Respondeu-me que não me tinha oferecido para tal tarefa, tendo objectado que durante toda a minha vida nunca tive necessidade de me colocar em “bicos de pés”, pelo que também não seria agora. Mais: sendo ele o líder, devia-o ser, fundamentalmente, em termos de aglutinação, pelo que era sua incumbência chamar-me e não eu a fazer-me convidado.
A partir daí, quebrada que estava a confiança, deixei de participar nas reuniões daquele órgão, dando-lhe conta disso.
Todavia, fiz mais uma tentativa. Assim, tive oportunidade de enviar uma mensagem pedindo-lhe um encontro a sós. Redarguiu, passados uns dias, marcando-me um encontro para o próprio dia da resposta. Em virtude de ter compromissos anteriormente assumidos respondi que não podia, mas que podíamos marcar para dias depois.
Entretanto, soube, de fonte segura, que a formação das listas estava completa, pelo que concluí nada haver a conversar. Isto mesmo lhe transmiti, via correio electrónico.
Eis, pois, em resumo, os factos que deram origem a mais um episódio rocambolesco, impróprio de quem se arvora de uma ética sá-carneirista, costumando, aliás, citar este estadista em todas as suas intervenções, dizendo “a política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha”. Nota-se!
Mas o que esperar de quem fez toda a sua vida à sombra do partido? Primeiro jotinha, depois jota e agora jota sénior? Bem, se a nível governamental e oposição é assim, porque é que em Anadia havia de ser diferente? Por outro lado, para quem sempre desferiu violentos ataques ao seu adversário de eleição – leia-se o ainda presidente da CMA – acusando-o de prepotente e único decisor, está-se mesmo a ver a diferença.
Por último, serve JMR para presidente da Câmara de Anadia? Pelo exposto, tenho a certeza que não. Todavia, a última palavra caberá aos cidadãos de Anadia.
Banhos, 16 de Agosto de 2013