Uma coisa é a justa reivindicação dos trabalhadores dos mais diversos sectores de actvidade. Outra coisa, porém, aliás bem diferente, é a agenda política que, na grande maioria das vezes, comanda, na rectaguarda, as forças sindicais. Estas, por vezes, claramente afirmam, sem rebuço, a ilegitimidade do governo, outras, encapotadamente, afirmam nas suas dissertações, bem como nas ruas, aquilo que apenas nas urnas se deve apurar se tal é ou não legal.
Assim, tendo como acertada e assertiva a actual luta dos docentes, i.e., contra o despedimento - agora denominado requalificação -, eventual colocação a centenas de quilómetros por decisão unilateral da administração educativa, sem ter em conta a família, os interesses pessoais e económicos dos profissionais de ensino, como se estes fossem descartáveis e, sobretudo, pudessem ser deslocados como máquinas se tratassem, também não deixo de vituperar certas formas de atingir determinados fins.
É que alguns sindicalistas tentam levar os professores – outro dia ouvi, de viva voz, um dirigente de topo da Fenprof a dizer, sem qualquer embuço, que a luta também passava por derrubar este governo – a patamares que a maioria, cerca de 85%, dos portugueses, por imensas vezes, já rejeitaram, ou seja, para uma ditadura do proletariado. Observe-se que, desde Vasco Gonçalves, a CGTP e, por consequente, a Fenprof rejeitam qualquer medida proveniente dos governos institucionalmente investidos.
Por isso, apesar de apoiar incondicionalmente o combate que todos nós, actualmente, travamos, independentemente dos incómodos que causamos a A, B, C ou D – as greves sem esse objectivo não teriam qualquer sentido – também declaro, sem pejo de ser acusado de desmobilizador e/ou governamentalista, não estar disposto a matar a ferro e a fogo por objectivos ocultos.
Nesta ordem de ideias comungo da ideia da FNE de não prolongar indefinidamente a actual luta dos professores, tanto mais que arriscamos a que se vire contra nós uma série de sectores importantes da sociedade, a saber: alunos, pais e parte substancial da população. Há primeiro que avaliar este impacto- como dizia ontem, e confirmou-se, é fortíssimo – e depois observar o melhor caminho.