Uma página em branco. As ideias que faltam. O puxar pela mente e o deserto de temas que continua a persistir. Eis o desespero de quem sente vontade de escrever e nada sai do bico da caneta, ou melhor do teclado do computador, já que aquele sistema há muito que, para a maioria, caiu em desuso.
De repente, agarro-me a uma ideia ténue, qual folha seca que deambula pelos ares no Outono, ao sabor dos ventos e das primeiras chuvas. Contudo, por ser tão frágil, rapidamente chego à conclusão de que não possui asas para voar, i.e., as palavras que daí brotam não têm a consistência que exijo de mim próprio, levando-me a apagá-las e a (re)escrevê-las, cujo fim não é o caixote do lixo, como antigamente se fazia, mas a usar a tecla “delete” vezes sem conta.
Os cheiros, as memórias e até os desejos se esvanecem. A angústia, que de mim se apodera, ameaça a integridade da máquina, como se esta tivesse culpa do meu estado de alma. A liberdade, por vezes, é castradora. Será, porventura, saudade o que sinto e, nessa ordem de ideias, factor impeditivo do desnudar dos sentimentos? Não acredito, uma vez nunca ter sido dado a saudosismos. Alguma coisa, porém, me bloqueia. Talvez saudades do futuro. Sim, deve ser isto. A ver vamos, como diz o cego.
Valerá a pena continuar o esforço? Definitivamente, não. Esta crónica, que no fundo é uma não-crónica por aqui termina.
Amanhã é outro dia.