O meu ponto de vista

Maio 14 2013

Existem livros e frases que nos marcam. Por exemplo, da pena de Ken Segall chega-nos a obra, ainda não traduzida para português, mas que já se sabe algo, Insanely Simple: the obsession that drives Aple’s success, na qual se fica a saber por que razão uma marca e/ou um líder têm conseguido levar pessoas comuns a realizarem coisas extraordinárias. A receita é simples: porque, no final, se constata que é simples.

Por outro lado, Roger Ficher no seu livro Chegar ao Sim relata-nos que, para chegar a tal estado, alguns tentam impor a sua vontade ou recorrem a truques sujos; outros, porém, para evitar conflitos, permitem todo o tipo de concessões. Recordam, no entanto, que embora as negociações sejam diferentes, os elementos essenciais são sempre os mesmos, i.e., comprar um casa ou assinar um acordo de paz no Médio Oriente têm mais em comum do que, à primeira vista, pensamos”.

Sendo certo que, hoje-em-dia, poucos se podem gabar de que a vida lhes sorri, também não é menos verdade que disparar em todos os sentidos, contra tudo e contra todos, é contra-procedente. Parar, reflectir no que se quer para o futuro e só depois agir é fundamental.

Verdade, verdade é que a crise, ou seja aquilo que nos afecta e nos deixa constrangidos, muitas vezes fora de nós, isto para usar uma referência benévola, é algo não palpável, muitas vezes mais teórico que prático. Aliás, a menção a tal desígnio corresponde muito mais a um estado de alma que a um dado adquirido. Vejam-se, por exemplo, os títulos dos jornais do outro dia, os quais, sem excepção, aludiam a uma “corrida desenfreada na Luz aos bilhetes para a final de Amesterdão”. Mais: o Estádio do Dragão, neste fim-de-semana, para o encontro F.C. Porto – Benfica, estava cheio que nem um ovo, sinal que para determinados casos há dinheiro.

Perguntarão os leitores: mas o que tem o início deste texto a ver com o seu final? Responderei que tem e muito: quando se deseja intensamente uma coisa, o modo de a conseguir torna-se simples. Se, porém, o resultado é o melhor para o próprio ou para o país, isso já é outra conversa!

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:45
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Maio 13 2013

Começo, com toda a sinceridade, a estar cansado, até ao cotulo da cabeça, desta questão dos reformados e pensionistas. Esta coisa de uns irem para o desemprego, outros diminuírem-lhes, ano após ano, o salário, enquanto aqueles acham que o seu pecúlio é intocável é uma grande chatice, para não dizer que é tudo uma enorme m…

A última que descobriram é de morte. Então, não é que acham que a reforma é igual à propriedade privada e, por isso, inviolável? Esquecem-se, porém, que o dinheiro, para as suas reformas, vem do meu bolso, pelo que, nesta ordem de ideias, o meu ordenado é propriedade deles e não minha. Olhem para a lógica, ou melhor, para a lata destes tipos!

Será que, honestamente, conseguirão responder às seguintes questões: e o meu ordenado também não tem as mesmas prerrogativas? Ou será que apenas eles têm barriga? E os desempregados, para além de terem direito a um emprego, pode-se-lhes cortar o respectivo subsídio ou mesmo terminar com ele?

Já agora, recordando que muitos deles se encontram reformados aos cinquenta e poucos anos, com pensões bem altas, será que me podem dizer, com toda a segurança, quando me reformarei e com que montante? Se não sabem, respondo eu: será aos 66 anos, no mínimo, e com um valor incomparavelmente menor do que actualmente auferem. É justo?

Argumentam que muitos deles são o sustentáculo de filhos e netos. Bem sei que alguns são e serei o último a negar tal. Contudo, indago: e nós? Não o somos em primeiro lugar? Quem acode em primeiro lugar aos seus descendentes? Não serão os pais? Sim, porque quem está no activo, descontando para todos aqueles, também tem filhos. Ou, esquecem-se disso?

Depois vem o Paulinho das “Feiras” dizer que não admite que se crie um cisma grisalho. Oh pá, ofereçam-lhes um frasco de tinta, mas não permitam que os sacrifícios não sejam repartidos por todos. É que se assim não for, até me apetece dizer que mais parece que uns são filhos da mãe e outros da dita cuja …

publicado por Hernani de J. Pereira às 14:09

Maio 07 2013

Falando francamente, afinal, o leilão da electricidade promovido pela DECO foi um autêntico flop. Alguém acredita que um consumidor com contador bi-horário vai mudar de fornecedor só para poupar 1%? E, no final, ficou nos consumidores um sabor amargo, ao saber que aquela associação, por cada lar que mude para novo fornecedor, receberá uma percentagem, tendo sido, aliás, este o motivo da desistência do concurso da maioria dos players existentes no mercado. Bem me avisou pessoa amiga: a DECO há-de ter alguma contrapartida. No fundo, parafraseando ditado antigo: consumidores, consumidores, mas comissão à parte!

Por outro lado, conforme o ano passado escrevi, a queima das fitas promovidas pelas associações de estudantes das várias universidades movimenta milhões. A título de exemplo, em Braga gastar-se-á 800 000, em Aveiro 500 000 e no Porto ultrapassar-se-á o milhão de euros. Depois admiramo-nos de apesar do brutal assassino de um estudante nesta última cidade, o evento não ter sido interrompido? Com tanto dinheiro envolvido, o que queriam? Todavia, outra interrogação se levanta: como é possível, em tempos de tão grave crise, quando são as próprias associações de estudantes a promoverem manifestações contra os cortes orçamentais, aparecer tanto dinheiro? Crise, crise, mas festa à parte!

Pelo seu lado, Luís Filipe Menezes afirmou que nada o travará na sua candidatura à Câmara do Porto. Quer dizer, independentemente daquilo que os tribunais decidirem nada o fará desistir, ou, dito por outras palavras, as decisões dos tribunais, para ele, nada valem. Se isto não é apego ao poleiro, o que será apego? Democracia, democracia, mas poder à parte!

Por fim, reafirmo que sou a favor dos exames no final de cada ciclo, não só a Língua Portuguesa e a Matemática, como a todas as restantes disciplinas do currículo. Todavia, no que estou totalmente contra é a implicação que isso acarreta, i.e., a ausência de aulas para outros alunos, sobretudo para os que também terão que fazer provas externas, como é o caso do 6º e do 9º ano. É bom dizer que exames, exames, mas aulas à parte.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:46

Maio 06 2013

Ele esperava-a na esplanada, lendo o jornal e bebendo um café. Como assim, havia que matar o tempo com algo. Ao fundo via-se o areal e, mais além, o mar. As gaivotas sobrevoavam os céus, grasnando como que estivessem a chamar por ela. A necessidade em manter a continuidade visual ditou a escolha do local. O magnífico sol que iluminava aquela manhã de sábado, ainda primaveril, é certo, mas já a cheirar a Verão, conferia ao sítio o melhor de dois mundos: de um lado o ambiente cosmopolita da cidade, do outro o telurismo do jardim, simultaneamente sossegado e recatado tanto quanto possível.

De repente, ela apareceu, como do nada viesse, subindo as escadas, devagar, mas com a respiração ofegante e as faces rosadas. Por entre o decote do vestido Versace vislumbrou um soutien preto com rendas cor-de-rosa. Quando a cumprimentou sentiu o perfume do Chanel nº 5, aquele que ela bem sabia ser o seu preferido. Apesar de tantos anos, há odores que não se esquecem.

Todavia, o mais importante foi sentir o seu coração bater descompassadamente quando se encostou a ele. Também não era para menos, pois o (re)encontro, ao fim de mais de trinta anos, assim o ditava. Ele, pelo seu lado, bem sabe que demonstrou o contrário, mas a verdade é que a calma que denotou era, no fundo, só aparente.

Perguntou-lhe se queria tomar algo. Respondeu-lhe que não e, face ao adiantado da hora, foram, de imediato, almoçar. O restaurante, situado nas cercanias, de cujas janelas se via o mar “chão”, serviu-lhes sardinhas assadas com pimentos, acompanhados de um D. Ermelinda, aliás um belo vinho tinto alentejano, não escolhido, certamente, ao acaso. O peixe, apesar da frescura, ainda não possuía o tamanho e a gordura suficiente para, como se diz na gíria, pingar no pão. Contudo, a desejo soube-lhes maravilhosamente. A conversa girou à volta dos acasos da vida, dos amores feitos e desfeitos, da família, principalmente dos filhos, dos amigos de então e, sobretudo, das venturas e desventuras, tendo chegado à conclusão, que, muitas vezes, para ambos, a vida foi mais madrasta que mãe.

A tarde prolongou-se com um breve passeio, assegurando, assim, o ambiente propício para dissolver os restos de tensão que ainda pairavam no ar. Foi a meio deste que, passadas mais de três décadas, se voltaram a beijar. Um beijo profundo, longo, levando-os ao êxtase e facilitador de um premissa-base de todo o dia: recuperar o tempo perdido.

O resto da tarde foi para se voltarem a (re)descobrir. Apesar dos anos e dos filhos, o seu corpo continua igual, firme e seguro de si. No entanto, relevante foi a intensidade com que voltaram, mutuamente, a descortinar cada pedaço do corpo do outro. A roupa rapidamente voou desnudando os corpos frementes de desejo, os lençóis foram amarrotados, as bocas uniam-se a cada segundo, os corpos suados pediam mais, até que …

A tarde foi pequena para uma ânsia acumulada por anos e anos de espera.

O sol já se tinha posto quando se despediram. Na linha do horizonte, por força do ocaso, um raiar avermelhado fazia brilhar de uma cor variada o mar, tantas vezes visto e revisto. Naquele dia, porém, diferente!

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:53

Maio 02 2013

Existe uma máxima que nos habituámos a escutar, escrita por Lampedusa, através da personagem Príncipe de Salinas, no célebre livro O Leopardo: “É preciso que algo mude para que tudo permaneça na mesma”. De facto, no panorama nacional parece que alguma coisa está a mudar, mas, de concreto, pouco ou nada se altera. Veja-se a classe política e os gestores das empresas públicas para termos a certeza que isto é verdade.

São gestores do blocão central que, ora estão nas empresas a facturar milhões, administrando mal e, desculpem-me a expressão menos prosaica, porcamente, ora vão para o governo e vice-versa. Mas são também os políticos, cujo carreirismo é atroz, numa subida de jotinha a jota e depois a sénior, sem fazerem ou exercerem algo de concreto, cuja única experiência é passearem-se pelos longos corredores atapetados do poder, frequentarem esta reunião, aquele congresso, onde botam faladura e aprendem a arte da retórica, isto é, de poderem falar horas e horas a fio, incendiando, se necessário, as hostes mais empedernidas, sem, no fundo, dizerem alguma coisa de palpável.

Outra prova de que Portugal não se compõe e muito menos se recompõe está na verdadeira dança de cadeiras entre os players de legisladores/economistas a actuar entre nós, fazendo deste rectângulo à beira-mar plantado um autêntico nicho laboratorial. Em primeira instância, os erros cometidos – e têm sido tantos - jamais são assumidos e, para agravar, raramente emendados, não havendo coragem para redefinir estratégias de mudança, a não ser para pior, uma vez persistirem na mesma receita.

A ilustrar tal, observe-se a intenção de subir a idade da reforma para os 66 anos, a partir de 2014, não havendo sequer direito a pedir a sua antecipação mesmo que aceite a respectiva penalização, bem como o aumento do número de horas de trabalho – das actuais 35 passar-se-á para as 40 horas – sem que isso acrescente qualquer aumento de ordenado, o que, na prática, configura a diminuição deste.

E depois admiramo-nos do aumento de desemprego?

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:27

Análise do quotidiano com a máxima verticalidade e independência possível.
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