Temos assistido, nos últimos tempos, a permanentes manifestações, um pouco por todo o país. Algumas, sem margem para dúvidas, muito grandiosas e para ouvirmos, vermos e, sobretudo, não ficarmos mudos, i.e., reflectirmos; outras, porém, manifestamente industrializadas e cujo pêndulo advêm de uma agenda oculta, vulgo sindicalismo radical, cuja tónica pressupõe, nem mais nem menos, correias de transmissão de ideologias que o povo português livremente, ao longo de trinta e nove anos, rejeitou de forma inequívoca.
As primeiras, apartidárias e cujos organizadores não possuem rosto, não podem ser apropriadas por quem que sejam. Vão muito para além da política de contestação governamental e elevam os seus protestos contra todos os políticos e forças partidárias. Basta, para justificar tal, recordarmo-nos dos muitos cartazes que diziam “abaixo os partidos”, “estamos fartos de todos os políticos, pois são uns ladrões”, “os políticos são todos a mesma coisa, pois o que querem é o tacho”, “os políticos querem é poleiro e quando lá se encontram rapidamente esquecem as promessas”, entre tantos outros “mimos”.
Ora, os políticos a que tais cartazes aludiam não diziam apenas aos que exercem funções governamentais. Por isso, é lamentável ver os dirigentes do PC, BE e, por vezes, também o PS, para além de integrarem as ditas manifestações, ver como enviesadamente leem aquelas legítimas manifestações. Mas pior, bem pior, é acharem que tais manifestações lhes dão inteira razão. Aliás, não é por acaso que, as aludidas forças partidárias, sobretudo as primeiras, dias após as eleições, senão no próprio dia, aí estão a pedir novas eleições e a proclamar, aos quatro ventos, que o governo legitimado nas urnas no próprio dia ou dias antes já não tem as mínimas condições para governar.