Existe uma máxima que nos habituámos a escutar, escrita por Lampedusa, através da personagem Príncipe de Salinas, no célebre livro O Leopardo: “É preciso que algo mude para que tudo permaneça na mesma”. De facto, no panorama nacional parece que alguma coisa está a mudar, mas, de concreto, pouco ou nada se altera. Veja-se a classe política e os gestores das empresas públicas para termos a certeza que isto é verdade.
São gestores do blocão central que, ora estão nas empresas a facturar milhões, administrando mal e, desculpem-me a expressão menos prosaica, porcamente, ora vão para o governo e vice-versa. Mas são também os políticos, cujo carreirismo é atroz, numa subida de jotinha a jota e depois a sénior, sem fazerem ou exercerem algo de concreto, cuja única experiência é passearem-se pelos longos corredores atapetados do poder, frequentarem esta reunião, aquele congresso, onde botam faladura e aprendem a arte da retórica, isto é, de poderem falar horas e horas a fio, incendiando, se necessário, as hostes mais empedernidas, sem, no fundo, dizerem alguma coisa de palpável.
Outra prova de que Portugal não se compõe e muito menos se recompõe está na verdadeira dança de cadeiras entre os players de legisladores/economistas a actuar entre nós, fazendo deste rectângulo à beira-mar plantado um autêntico nicho laboratorial. Em primeira instância, os erros cometidos – e têm sido tantos - jamais são assumidos e, para agravar, raramente emendados, não havendo coragem para redefinir estratégias de mudança, a não ser para pior, uma vez persistirem na mesma receita.
A ilustrar tal, observe-se a intenção de subir a idade da reforma para os 66 anos, a partir de 2014, não havendo sequer direito a pedir a sua antecipação mesmo que aceite a respectiva penalização, bem como o aumento do número de horas de trabalho – das actuais 35 passar-se-á para as 40 horas – sem que isso acrescente qualquer aumento de ordenado, o que, na prática, configura a diminuição deste.
E depois admiramo-nos do aumento de desemprego?