A recessão económica, uma vez que o termo desaceleração da economia portuguesa é coisa para unicamente termos saudade, tem fortes consequências no mercado de trabalho e na estrutura de custos fixos (salários e benefícios).
Neste contexto de crise económica em que as empresas privadas e as organizações públicas sentem a pressão da quebra da facturação e resultados, torna-se premente a questão do corte nos custos fixos. O debate tem sido redundante nos últimos anos, andando sempre em torno da mesma questão: é preferível cortar colaboradores ou benefícios?
A questão é particularmente complexa, porque estamos a falar dos chamados direitos adquiridos e que têm impacto na vida de todos. Os reformados e pensionistas são de opinião de que não lhes pode ser cortado seja o que for, apesar de saberem muito bem o que descontaram durante os seus anos de serviço, o qual, quando comparado com o que vão receber até à sua morte, quase que podíamos dizer que é uma gota de água no meio do oceano. Os trabalhadores no activo, pelo seu lado, são de opinião de que são intocáveis o ordenado, subsídios e outras regalias, tanto mais que assinaram um vínculo com tais prorrogativas, não querendo saber se existem ou não verbas para tal.
A verdade, tal como a escrevi aqui e em outros locais, é que todos, sem excepção, acham que deve haver contenção e poupança. Todavia, tal deve calhar sempre no quintal dos vizinhos, pois o nosso é de uma importância tão enorme que, se minguar – já não falo da inexistência –, não é o fim do país mas sim do universo.
Dizem-me que para a resolução destes diferendos só um governo com pulso forte. Acontece, porém, que as medidas ou são inconstitucionais ou então originam um tal sururu que ninguém aguenta. Todos os dias vemos, principalmente na TV, "enormes" manifestações, bastando para isso meia dúzia de pessoas, a insurgirem-se contra esta ou aquela medida. Abro um parênteses para dizer que, neste âmbito, a comunicação social tem grandes culpas, uma vez que sabe muito bem que uma andorinha não faz a Primavera e que a maior parte das manifestações são totalmente instrumentalizadas e escondem uma agenda política de “terra queimada”.