Existem claramente pessoas, obras, eventos, profissões, enfim um mundo de estados, a que nos apaixonamos, muitas vezes, devotadamente. Existem casos em que a paixão é tão grande que, por muitas visitas e passeios que façamos por outros locais e gentes, ao início sempre voltamos. Quem, de entre nós não se encontrou, por mais de uma vez, nesta situação e repetidamente a ela voltaram? Uma, duas, três, mil vezes até e de forma incansável.
Várias vezes vai-se apenas passear o olhar, outras com uma intenção mais concreta e perspicaz. Todavia, de uma forma ou de outra, desde cedo se achou que as justaposições provenientes das diferentes vistas não era só salutar como vital. A melhor maneira de expressar a paixão não é apenas sob a incidência do sol, pois a chuva, na metáfora das lágrimas, é também essencial. Aliás, não é por acaso que a claridade ilumina, mas simultaneamente também faz sombra.
Solucionada (?) a questão da paixão, isto é, o rosto identitário dos nossos sentimentos, falta sempre mergulhar na alma do outro, essa osmose tão bela quanto complexa. Este é, sem dúvida, o verdadeiro desafio da mestria, em que se confronta o papel de cada um no tabuleiro da vida, que é, nem mais nem menos, uma série de ângulos desencontrados. No fundo, tal desígnio gera toda uma série de conflitos e negociações. É que se observarmos bem, a paixão não é um simples traço e muito menos uma questão de ângulos rectos, perfeitos na forma e graduação. Podendo ser agudos ou obtusos, há que os encarar com naturalidade e seguindo o mesmo tipo de raciocínio que se usa para outros fins. Entende-se que a circunstância deve ser pretexto para fazer novas experiências, libertando-nos, desta forma, para futuros projectos, os quais devem estar descontaminados de práticas que se teve.
Quantas vezes não sentimos que temos paredes e colunas sólidas, apesar das várias camadas de pintura sobrepostas? Ora, para realçar a beleza há que retirar a carapaça que nos envolve, limpando os elementos acumulados e hiperdecorativos que tenhamos sofrido ao longo do tempo, regressando à traça original.
Por outro lado, a iluminação deficiente, senão mesmo escassa, exige uma solução prática. Uma solução não intrusiva, como é óbvio, mas sem ser fechada, aproveitando tudo o que a vida nos dá de bom. Com pragmatismo, é certo, mas com profunda convicção de que a demolição só em raríssimos casos é solução. Daí preconizar a reconstrução permanente.