E se o seu salário também for emocional? Esta era a pergunta que outro dia titulava um artigo publicado num dos nossos jornais de referência.
Lembrei-me deste texto a propósito das notícias de ontem e que continuam a ter hoje e hão-de ter no futuro uma repercussão muito forte. Refiro-me como é óbvio às recomendações do FMI com vista à superação da crise económica que atravessamos. Estas são tão drásticas que, a serem colocadas em prática – o diabo seja cego, surdo e mudo -, me atreveria a dizer que não serão somente a maioria dos salários que terão uma carga mais emocional do que real, mas sim o nosso sentir do dia-a-dia.
Manda a verdade dizer que, hoje em dia, começamos a ter medo de acordar, pois, logo ao levantar, somos autenticamente bombardeados com mais e mais notícias que nos deixam literalmente de cabelos em pé. Falo daqueles que os têm, como é lógico, pois os carecas devem ficar completamente arrepiados. Por isso, das duas uma: ou não acordamos, o que não se deseja para nós nem para ninguém, ou, então, o melhor é não ouvirmos notícias nem lermos jornais.
É evidente que a vida é feita de emoções e elas são absolutamente necessárias para o nosso equilíbrio e bem-estar. Mesmo as emoções fortes são, por vezes, muito úteis, já que nos revigoram. O nosso povo diz que o que não nos mata torna-nos mais fortes. Todavia, ninguém consegue, dia após dia, aguentar tanta emoção e, sobretudo, quando estas acarretam uma tão grande carga negativa.
Quando se ouve apregoar, entre outras medidas, o despedimento de cerca 120 000 funcionários públicos, novo corte dos salários e pensões, na ordem dos 15%, aumento da idade da reforma, limitação dos benefícios sociais, aumento das taxas moderadoras e propinas, depois de anos e anos a penar, é, desculpem-me o termo, dose para canhão.
Há mais de vinte anos que, por promessa que a mim próprio fiz, decidi não participar em marchas, protestos ou manifestações. Porém, embora lamentando, afirmo que se a maioria destas medidas tiverem cabimento, irei para a rua gritar bem alto. Tenham a certeza absoluta de tal, sem receio de ser confundido com a esquerda, seja ela do reviralho, caviar ou outra qualquer.