Como é do conhecimento geral, encontro-me nas antípodas políticas de Francisco Louçã. No entanto, não deixo de reconhecer neste um homem inteligente, um orador brilhante e um extraordinário combatente pelas causas em que acredita.
Bem sabemos que a sua notoriedade não lhe adveio apenas da sua veia académica, apesar de ser professor catedrático com variadíssimas obras publicadas. O realce que soube conquistar nos palcos políticos, sobretudo, no púlpito proporcionado pelo Parlamento, elevaram-no a patamares invejados.
Todavia, foi no saber entrar e, principalmente, no descortinar da hora de saída que fez a diferença entre os demais políticos. Todos sabemos que, se assim o entendesse, poderia perpetuar-se, não digo indefinidamente, mas quase, no primeiro plano da política portuguesa. Contudo, apesar de denotar algum excesso de humildade – a tomada do eléctrico para voltar a casa, aquando da saída no seu último dia na AR, demonstra-o -, manda a verdade dizer que renunciou de mútuo próprio às luzes da ribalta e saiu quando muito bem entendeu, sem pensões ou quaisquer outras quaisquer regalias, isto apesar dos seus treze anos de parlamentar.
Mas atenção. Não saiu com quaisquer prebendas, não porque renunciasse às mesmas, como alguém leu nas suas palavras, mas porque a lei, hoje em dia, ao contrário do que muita gente, demagogicamente pensa e fala, não lhas confere. Isso, porém, não lhe retira qualquer mérito, pois mais meia dúzia de anos no lugar, por assim dizer, e enormes prerrogativas teria futuramente.