Muitos de nós interrogamo-nos constantemente sobre o que é importante, quer estejamos a discorrer sobre o plano pessoal ou profissional. A resposta só pode ser uma: acreditar nos objectivos traçados, seguido de uma paixão pelos mesmos e, sobretudo, possuir uma dedicação correspondente a essa paixão.
Sendo certo que todos possuímos determinados talentos, falta, mais vezes que as aconselháveis, capacidade de arriscar. Não ter excessivas limitações na procura de soluções, não estacar frente ao menor obstáculo, recusar sofrer por antecipação – somos, talvez por genética, especialistas neste ramo -, é fundamental.
A actual conjuntura obriga, cada um de nós, a mostrar o seu verdadeiro valor enquanto indivíduos, antes mesmo de os renunciar, por muito válidos que sejam os argumentos para tal. Já o escrevi, e não me canso de o repetir, é nestas alturas que se vê em que cadinho fomos moldados.
Estando em causa a sustentabilidade de cada um de nós e, porque não vivemos numa ilha isolada, consequentemente da sociedade, o futuro depende dos talentos que estamos dispostos a colocar em jogo. Aliás, há ditado popular que alude ao facto de, em cada um de nós, “existirem forças que nunca viram o sol”. Assim, sem a menor dúvida, todos, sem excepção, temos talentos que nunca os colocámos a render. Ora, são esses talentos, esses esforços e dedicações escondidas que têm que vir ao de cima.
Contudo, também sei que falar e/ou escrever é fácil. Dou um exemplo: ninguém tem dúvidas que Portugal não estaria, neste momento, em tão grande aflição se recorresse, mais cedo, à ajuda internacional para fazer frente às suas dificuldades financeiras. Nesta ordem de ideias levanta-se uma interrogação pertinente: então, porque não se fez? A resposta assenta no facto de ninguém gostar de demonstrar, a quem quer que seja que, por um lado, as suas acções (políticas ou não) falharam, e, por isso, estão a passar por dificuldades, apesar das mesmas, na maior parte das vezes, serem mais que públicas. Assim, resta, como se diz na gíria popular, “empurrar, para a frente, o problema com a barriga” ou, dito de outro modo, “varrer-se as contrariedades para debaixo do tapete”.
Por outro, tal pedido implica, como se sabe e não há como o negar - a prática aí está a demonstrá-lo - alguma perda de independência. Todavia, entre os anéis e os dedos não há hipótese de escolha. Por muito que queiramos e acharmos que merecemos, não podemos ter, simultaneamente, “chuva no nabal e sol na eira”. Para além da vida ser um constante desafio aos respectivos ciclos, há que, em cada momento, saber discernir o que é mais importante. Haverá alguém que possa dizer que, num momento ou outro, não teve de engolir sapos, senão mesmo elefantes vivos?
No entanto, em boa verdade, tenho que reconhecer que, legitimamente, existe, em cada um de nós, um sentimento de orgulho, e porque não dizê-lo, até uma certa vaidade, em afirmar que consegue resolver os problemas sozinho, ou seja, sem necessitar da ajuda de quem quer que seja. Porém, não admitindo qualquer forma de subserviência, a realidade da vida ensina-nos que tudo isso são palavras ocas.