Dizer que estamos inseridos num meio muito peculiar não é novo e pouco acrescenta ao que a maioria já sabe. Factores como o fraco nível de capacidades empreendedoras, a presença de actividades económicas praticamente informais como a única alternativa para boa parte da população, os baixos níveis de qualificação da população e das organizações, a desestruturação familiar e a fragilidade das oportunidades de desenvolvimento pessoal, assim como sentimentos de insegurança e subdesenvolvimento pessoal têm contribuído para a depressão e exclusão social de muitas pessoas, onde a pobreza influencia – e de que modo! – dinâmicas negativas na vida comunitária e, sobretudo, na escolar.
Sendo certo, como anteriormente aludi, que a pobreza, por vezes, actua sobre o rendimento escolar, também não é verdade que a mesma seja sinónimo absoluto de incapacidade e jamais pode ser considerada paradigma de autoexclusão. Por existirem tantos e tantos exemplos em que variadíssimas pessoas conseguiram dar a “volta por cima” e subir, como se costuma dizer, na vida a pulso, gostaria de saber quantos dos nossos alunos, vivendo no limiar da pobreza ou estando mesmo nela, são capazes de afirmar “se os outros conseguem, eu também sou capaz”, sabendo, de antemão, que este é o ponto de partida para o sucesso.
Ora, na realidade, nunca ou muito raramente ouvimos ou sentimos essa predisposição. Assim, para além de ser péssimo não desenvolverem tal conceito, bem pior é nunca lhes pedir responsabilidades por não o assumirem. Isto sem falar no caso – este sim chocante - de haver sempre um conjunto de pessoas – geralmente aquelas que não os “aturam” diariamente na sala de aula - dispostas a colaborar na farsa que se designa por inclusão (da treta!). O argumento, por tão estafado, já não pega, mas há falta de outro, é sempre o mesmo: é preferível ter o aluno na escola, comendo e bebendo à nossa custa e nada fazendo – no sentido literal da palavra, pois nem os livros passeiam -, insultando os docentes e funcionários, impedindo que os colegas interessados – que, felizmente, ainda os há – de aprenderem, do que andarem a vagabundear pelas ruas e cafés.
Bem sei que esta forma de “educar” interessa a algumas pessoas. É ver o número de docentes que, por escola, se encarregam destes casos. No entanto, o bem de muitos não pode estar subjugado ao interesse de uns poucos.
Como não concordo com esta (pseudo)inclusão, por apenas lhes incutir direitos e jamais deveres, para além de barrarem a pretensão a mais e melhor conhecimento a muitos dos seus colegas, que advogo outra forma de actuar com este tipo de alunos. Há que, de uma vez para sempre, lhes proporcionar um ensino, em instituições mais viradas para a prática e, acima de tudo, onde seja possível impor-lhes regras de cumprimento obrigatório, às quais não poderão “fugir”, preparando-os, desta forma, para uma inserção – profissional e civilmente - na vida activa.
Já agora, por vir a talhe de foice, o outro dia vi um trabalho afixado numa zona nobre da escola sobre os direitos das crianças: direito a isto, àquilo e aqueloutro. Procurei e procurei e não encontrei nenhum que falasse dos deveres. Sintomático, não!