1 – Os municípios portugueses ameaçam fechar as câmaras municipais e entregar as respectivas chaves ao governo – pagarei de bom grado para tal ver -, uma vez acharem que o governo está a ir longe de mais na austeridade e, nessa medida, sentem-se completamente asfixiados.
Para além de quererem mais e mais dinheiro, que virá do bolso dos contribuintes, como é óbvio, são de opinião que a reorganização administrativa que lhes irá retirar cerca de 1200 chefias, deixará as autarquias ingovernáveis. Sobre a primeira questão estamos falados. Relativamente à segunda, bem sabemos o que os move: têm medo, tal como o diabo tem da cruz, de que os tachos e as prateleiras douradas que arranjaram para os compadres e afilhados vão à vida.
Por outro lado, quem viaja por este país, independentemente de atravessar muitos ou poucos concelhos, continua a deparar-se com a construção de mais e mais rotundas, lombas e demais obras de fachada, bem como vê os senhores autarcas, e demais comitivas, com uma excelente frota de carros e todos com direito a chauffeur(s).
2 - Os estudantes universitários, com a cobertura de alguma imprensa, queixam-se diariamente de que não conseguem pagar as propinas e demais despesas inerentes ao curso superior que frequentam, chegando ao ponto de invocarem a Constituição, a qual diz que o ensino, seja qual for o grau, será tendencialmente gratuito (!!!). Aqui para nós, que ninguém nos ouve: “raios partam” os políticos por não se atreverem a rever este e muitos outros pontos da lei fundamental do país, uma vez que, nos dia de hoje, não fazem qualquer sentido.
Adiantam que muitos estudantes já abandonaram as universidades por falta de condições económicas. Acredito que algumas destas situações serão mesmo verdadeiras. Porém, muito, mas mesmo muito longe dos números que nos querem fazer crer. Todavia, a haver um único caso, tal não deixa de ser grave.
E, ainda que mal pareça, atrevo-me a perguntar: não conseguem pagar os estudos superiores e arranjam modo de gastar seis milhões de euros nas semanas académicas, vulgo queima das fitas, que um pouco por todo o país acontecem? E isto apenas no referente ao custo dos espectáculos, pois, por fora, há que somar as fatiotas, as jantaradas e o álcool que, em doses industriais, naquelas é consumido. Por exemplo, no cortejo da queima em Coimbra, realizado p.p. domingo, foram cerca de 90 os estudantes que os bombeiros tiveram que transportar às urgências dos HUC, sendo que metade estava em perfeito coma alcoólico.
3 – Mário Soares vem, hoje, apelar ao PS para que rompa o acordo com a troyka. Não sei se se está a tornar num incendiário ou, o que talvez seja o mais certo, com a idade, a qual, como bem sabemos, não perdoa, está completamente xexé.
Já agora, rompíamos o acordo e vivíamos de quê? É que ao romper com tal, o resto dos 78 mil milhões de euros, absolutamente necessários para o nosso viver diário – salários dos funcionários públicos, pensões e subsídios - desemprego, RSI e outros – deixariam de vir. Ou Mário Soares acha que se o PS deixasse de fazer parte do acordo tripartidário, o FMI, o BCE e a CE ficariam impávidos e serenos, i.e., continuariam, de braços cruzados, como nada tivesse acontecido?
Como pode um político que, por duas vezes, assinou, em tempos que já lá vão, acordos com o FMI, igualmente austeríssimos, vir agora propor uma alarvidade destas?
Qual destas actuações é a mais irresponsável? Que venha o diabo e escolha!