Num cenário de adversidade - o ensino é um caso paradigmático – a proactividade e o empreendorismo dos professores fazem milagres pelo sucesso da escola. Todavia, nem todos os gestores escolares sabem conduzir os seus quadros neste sentido e tirar o melhor partido da sua motivação e capacidade de empreender.
Mas como alcançar este estado de desenvolvimento dentro da escola, sobretudo em tempos conturbados como são os que hoje vivemos? A resposta assenta mais no incentivo dos docentes a agirem de forma empreendedora, semelhante à dos investidores de risco, do que fomentar um espírito empreendedor entre aqueles. No fundo, trata-se de resolver a velha dicotomia entre o individual e o colectivo.
Como é do conhecimento geral, a escola, nos últimos trinta anos, fruto de uma sovietização que, pouco a pouco, se foi instalando, muitas vezes sem que a maioria dos professores se apercebesse de tal, deu largas ao colectivismo, onde tudo era decidido em grupo, na tentativa de que agisse como um todo, onde a homogeneização máxima era o limite.
Aliás, na mesma senda, e não por mero acaso, a escola, nos últimos anos, desenvolveu um outro conceito - muito do agrado das forças seguidoras de tal doutrina, em que os bens de produção e consumo são igualmente distribuídos por cada membro da sociedade – designado genericamente por “inserção na comunidade”, o qual, como se sabe, deu origem a que todo o “gato-pingado” ache que deve mandar naquela. Veja-se, por exemplo, a partidarização dos conselhos gerais, onde a cor da autarquia é dominante, bem como a entrega a esta dos funcionários e edifícios, com a ingerência e dependência que tal acarreta. E os docentes, se não “abrirem” os olhos, um dia destes, serão também descartados para as câmaras municipais, as quais, na sua maioria, estão ansiosíssimas por tal, como facilmente se descortina com as AEC. Mas os exemplos não ficam por aqui. Poucas são as instituições autárquicas, sociais, culturais e desportivas que não metem o bedelho e arrancam da sala de aula os discentes - independentemente de ser próximo de testes ou exames e de haver um programa curricular para cumprir - para esta jornada, para aquele meeting, entre tantos outros casos, sendo que a larguíssima maioria mais não são que shows off para aparecer na comunicação social, querendo demonstrar, assim, uma realidade que de verdade nada tem, ao mesmo tempo que usufruem de tempo de antena, o que nos dias de hoje, infelizmente, é o que conta.
É claro que existem também professores que embarcam neste tipo de iniciativas e até colaboram, de certo modo, activamente nas mesmas. A apresentação de “evidências” para efeitos de avaliação de desempenho a tal obriga. Contudo, os principais responsáveis são os dirigentes. Enfeudados como estão ao poder local, obrigados diariamente ao beija-mão, a nada se opõem, bem pelo contrário. Como é evidente, quem, no fundo, acaba por sofrer as consequências são os alunos, uma vez que o ensino das matérias curriculares ou não é dado na sua integralidade ou, então, é dado apressadamente, com todos os inconvenientes daí advenientes.
Isto para não falar na excessiva carga burocrática que os professores, a maior parte por culpa das respectivas direcções, estão obrigados. Como dizia, outro dia, um nosso colega, só um documento deveria ser preenchido: a pauta de avaliação. Este tema, porém, ficará para uma outra crónica.