Conheci-o uma hora antes de um jogo entre a Académica e o Porto, num domingo à tarde, numa altura em que, como sócio da Briosa, não faltava a um único jogo, ainda no velho Estádio Municipal. Já nesse tempo ocupava a função que ainda hoje ocupa, i.e., o de Presidente da Académica. Já lá vão cerca de catorze anos, mas recordo-me como se fosse hoje.
Por distracção, por ir atrasado ou outro motivo qualquer, o certo é que bateu no meu carro. Como é evidente, a minha primeira reacção foi dizer que era necessário chamar a polícia para que a ocorrência fosse registada oficialmente. Identificou-se, tendo eu dito ao que ia. De imediato, teve apenas uma palavra: “mande reparar a viatura que tudo pagarei”. Trocámos números de telefone e cada um foi à sua vida.
Passados quinze dias, desloquei-me ao seu escritório, tendo-lhe apresentado a factura de reparação, bem como o custo do aluguer de outra viatura. Limitou-se a sacar do livro de cheques e a pagar. De uma correcção inexcedível, no final, dirigiu-me um agradecimento pela compreensão.
Sendo verdade que nunca mais nos voltámos a cruzar, também não deixa de ser menos verdade que sempre ficou em mim a impressão de ter lidado com um academicista de primeira água e, sobretudo, com um homem de palavra.
Hoje, ao saber que o Tribunal da Relação de Coimbra tinha agravado a pena para seis anos de prisão efectiva, uma vez ter ficado provado que beneficiou empreiteiros em troca de donativos para a Académica, quando ocupava, na Câmara Municipal, o cargo de director de urbanismo, entristeci-me e lamentei o facto.
Sem querer, de modo algum, desculpar o “crime”, mas ao mesmo tempo vendo noticiado que Fátima Felgueiras foi ilibada, que Isaltino Morais nunca mais é preso, que Duarte Lima se encontra em prisão domiciliária e ninguém acredita que vá ser condenado, que Sócrates não é julgado no caso Freeport, isto para não falar de muitos outros casos, estes sim em que o enriquecimento foi pessoal, não posso deixar de sentir uma grande revolta, por alguém ser condenado apenas porque quis ajudar o seu clube de coração. Que o fez à margem da lei, ninguém duvida, mas também se sabe que tais proventos não foram para o seu bolso.
Todos sabemos que se a Académica tivesse, ao menos, a décima parte dos apoios que usufruem o Benfica, Sporting e o Porto não necessitava destes expedientes, os quais, repito, são condenáveis.