O meu ponto de vista

Maio 31 2012

Conheci-o uma hora antes de um jogo entre a Académica e o Porto, num domingo à tarde, numa altura em que, como sócio da Briosa, não faltava a um único jogo, ainda no velho Estádio Municipal. Já nesse tempo ocupava a função que ainda hoje ocupa, i.e., o de Presidente da Académica. Já lá vão cerca de catorze anos, mas recordo-me como se fosse hoje.

Por distracção, por ir atrasado ou outro motivo qualquer, o certo é que bateu no meu carro. Como é evidente, a minha primeira reacção foi dizer que era necessário chamar a polícia para que a ocorrência fosse registada oficialmente. Identificou-se, tendo eu dito ao que ia. De imediato, teve apenas uma palavra: “mande reparar a viatura que tudo pagarei”. Trocámos números de telefone e cada um foi à sua vida.

Passados quinze dias, desloquei-me ao seu escritório, tendo-lhe apresentado a factura de reparação, bem como o custo do aluguer de outra viatura. Limitou-se a sacar do livro de cheques e a pagar. De uma correcção inexcedível, no final, dirigiu-me um agradecimento pela compreensão.

Sendo verdade que nunca mais nos voltámos a cruzar, também não deixa de ser menos verdade que sempre ficou em mim a impressão de ter lidado com um academicista de primeira água e, sobretudo, com um homem de palavra.

Hoje, ao saber que o Tribunal da Relação de Coimbra tinha agravado a pena para seis anos de prisão efectiva, uma vez ter ficado provado que beneficiou empreiteiros em troca de donativos para a Académica, quando ocupava, na Câmara Municipal, o cargo de director de urbanismo, entristeci-me e lamentei o facto.

Sem querer, de modo algum, desculpar o “crime”, mas ao mesmo tempo vendo noticiado que Fátima Felgueiras foi ilibada, que Isaltino Morais nunca mais é preso, que Duarte Lima se encontra em prisão domiciliária e ninguém acredita que vá ser condenado, que Sócrates não é julgado no caso Freeport, isto para não falar de muitos outros casos, estes sim em que o enriquecimento foi pessoal, não posso deixar de sentir uma grande revolta, por alguém ser condenado apenas porque quis ajudar o seu clube de coração. Que o fez à margem da lei, ninguém duvida, mas também se sabe que tais proventos não foram para o seu bolso.

Todos sabemos que se a Académica tivesse, ao menos, a décima parte dos apoios que usufruem o Benfica, Sporting e o Porto não necessitava destes expedientes, os quais, repito, são condenáveis.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:04

Maio 30 2012

Confesso que, apesar de, imensas vezes, me emocionar e até algumas chorar - sim, porque os homens também choram -, não gosto de ver ninguém com as lágrimas a correr-lhe pelas faces. Bem, a não ser que seja de alegria. O verdadeiro choro é algo que me angustia e me constrange, chegando ao cúmulo de ficar tolhido de movimentos, não sabendo se hei-de consolar se hei-de deixar que o pranto termine por si.

Dizem os especialistas que o choro, por vezes, faz bem, na medida em que limpa o saco lacrimal e, sobretudo, alivia a alma. Não contraponho, já que não tenho dados e muito menos sou perito. Todavia, o certo é que não gosto, para não dizer que detesto.

Por se saber da minha aversão ao choro, confirmo que, mais de uma vez, fui enganado por plangores que mais não passavam de carpir mágoas não sentidas. Bem me levaram à certa, asseguro.

Ninguém chora do mesmo modo e os carpidos têm diferentes motivos e significados, mas, na maior parte dos casos, podem identificar-se os “gatilhos” que fazem despoletar as lágrimas. Nos adultos, pois é para estes que escrevo, as causas mais comuns são a dor, a infelicidade e a raiva provocada pela impossibilidade de dizer ou alcançar algo. Todas estas situações podem acontecer quando existem demasiadas fontes de estímulo, como tensões acumuladas ou movimentos descontrolados. Mais raros, mas também sucedem, são os casos em que o pranto aflora, os olhos humedecem e o fungar do nariz se acentua, por se sentir medo ou expressar ansiedade.

Reconheço que o teor deste texto fugiu do que tinha em mente, já que o que pretendia escrever era sobre o choro de “barriga cheia”. Este, sim, não suporto. E, neste âmbito, quando me refiro a lágrimas não aludo apenas ao sentido literal do termo. Já se sabe que a solidariedade já pouco ou nada vale nos dias que correm, pelo que falar sobre esta ou aquela nossa dificuldade é, de certo modo, como “chorar sobre o leite derramado”, pois à nossa volta não existirá ninguém que não comece, de imediato, a “gotejar copiosamente”, afirmando em tom convincentíssimo que trabalha muito mais, dorme muito menos e passa por maiores dificuldades. Em suma, possui uma vida desgraçada, autenticamente digna dos velhos folhetins que, pelas antigas feiras e mercados, geralmente, os cegos ou deficientes físicos declamavam e/ou cantavam.

Para estes não existe pachorra que aguente. Aliás, não é por caso, que muito raramente me ouvem falar dos meus problemas, pois sei que se o fizer, hipocritamente na maior parte das vezes, ao lado se levantarão autênticos “muros de lamentações”.

publicado por Hernani de J. Pereira às 19:56
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Maio 28 2012

Todos os dias nos deparamos com coisas estranhas. É certo que umas mais que outras, mas não deixam de ser estranhas.

O outro dia, ao olhar para um dos placards da escola, deparei com a afixação da composição do conselho geral. Até aqui nada de novo, bem pelo contrário. Já escrevi nestas páginas que a composição de todos os órgãos e estruturas intermédias devem ser do conhecimento público e, como tal, para além da afixação nos locais do costume, devem, obrigatoriamente, estar acessíveis ao alcance de um clique, isto é, na página da internet da escola. Não vou, porém, voltar a “bater na mesma tecla”.

Agora, o que me chamou a atenção foi o título que antecede os nomes para o principal (!!!) órgão da escola. Antes do nome dos representantes do corpo docente vem a designação de “Prof.”. Não sei se todos são licenciados e com vista a não criar eventuais melindres, nada tenho a comentar Depois seguem-se os representantes da autarquia e aqui sim: o “Dr.” é constante, incluindo o do presidente da autarquia, o qual, como é do conhecimento geral, não é licenciado, tendo sido apenas professor por um curtíssimo espaço de tempo, logo após o 25 de Abril, altura em que com qualquer habilitação se podia exercer a docência. De imediato, vêm os representantes do pessoal não docente, onde, pasme-se (!!!), o nome de um deles é antecedido de “Dr.” quando se sabe que a sua licenciatura não é reconhecida em Portugal. Sucedem-se os representantes dos pais e encarregados de educação com a denominação de “Eng.º”, “Dr.” e “Sr.” a anteceder o respectivo nome.

Esta terminologia é igualmente aplicada aos restantes corpos, ou seja, por exemplo, aos representantes da comunidade.

Remate final: não seria preferível elaborar a aludida lista onde constasse única e simplesmente o nome, por ordem alfabética, dos membros integrantes?

 

P.S. – Dizem-me que a primeira responsável é uma docente de uma correcção inexcedível. Como não a conheço tão bem como gostaria, apenas posso acreditar no que me dizem, tanto mais que a fonte é fidedigna. Por isso, a afixação de tal documento, nos moldes em que é feito, só pode ser por excesso de simpatia, o que diminuindo o lapso, não o desculpa na totalidade.

publicado por Hernani de J. Pereira às 18:15

Maio 25 2012

Saber ver o universo que nos rodeia para lá do nevoeiro que esconde horizontes e para lá de alguns constrangimentos que possam toldar a nossa razão na hora de reflectirmos sobre o nosso futuro é, sem dúvida, uma mais-valia.

Contudo, tal tarefa não se descortina facilmente e nem todos a conseguem resolver do melhor modo. Bem pelo contrário.

É para esta realidade que temos de estar alertados, pois, em breve, temo que deixarão de existir soluções para os nossos problemas, não por falta de capacidade, mas, sobretudo, por falta de perspectivas de futuro e, fundamentalmente, de meios, em especial pelas restrições no acesso às melhores condições económicas.

A velha máxima de “quem não aparece, esquece” já não chega para marcar terreno. Cada vez mais o ver mais além – politicamente, civilmente e, até, afectivamente – deve ser marcado por uma visão mais abrangente e uma estratégia distinta. Estamos quotidianamente expostos a imprevistos, mas também a decisões próprias de mudança de rumo. Por isso, é fundamental que nos posicionemos de forma proactiva e não estejamos à mercê do destino. Aliás, desde há muito, que sou adepto de que o destino somos, em grande parte, nós que o fazemos.

Igualmente, importante é que mantenhamos sempre bem alinhada a noção do nosso talento. Isto sem cair em narcisismos exacerbados. Sobretudo, para que o nevoeiro não nos impeça de ver o essencial, há que construir uma marca pessoal e fazer dela um trunfo, tendo sendo presente que a nossa hora, mais cedo ou mais tarde, chegará. No entanto, é necessário alguma cautela, pois não nos podemos esquecer que se há algo que nos caracteriza é o saudosismo, não sendo por acaso esperarmos, há séculos, pelo aparecimento, de entre o nevoeiro, de D. Sebastião. Como alguém disse “o caminho faz-se caminhando” – para a frente, como é óbvio, acrescento eu.

Ah, e a nossa imagem? O nosso comportamento e a nossa conduta como são vistas? Primar pela honestidade, fornecer toda a informação(!!!) e de forma transparente, evitar estados de ansiedade ou nervosismo, ter um discurso claro, possuir uma dimensão correcta dos nossos objectivos e conter uma atitude comedida ao nosso saber são factores primordiais. Paralelamente, ainda se pode exigir que nos apresentemos com uma postura assertiva, confiante e sempre segura das nossas capacidades, cumprir horários, apresentar uma imagem cuidada e vestir-se de acordo com o padrão da função que desempenhamos. Não haja dúvidas, são trunfos que nos podem ajudar a tirar o melhor partido das raras oportunidades que nestes tempos conturbados alguns ainda conseguem vislumbrar.

Estamos todos, porém, em condições de tais procedimentos? É a questão que deixo aos meus caros leitores.

publicado por Hernani de J. Pereira às 23:18
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Maio 24 2012

Bem sei que, hoje-em-dia, existem coisas que não nos deveriam causar admiração. No entanto, confesso, ser impossível não estranhar algo que vemos diariamente estampado na nossa imprensa.

Vêm estas palavras a propósito de, ao folhear, há dias, o Jornal de Notícias, diário que aprecio por ser aquele que melhor assume a alma da cidade de que muito gosto, i.e., o Porto, urbe sentida e amada, a qual se afirma na sua identidade muito própria, isente de quaisquer bairrismos (bacocos) e muito menos invejosa de outras cidades de beleza invulgar, como é o caso de Lisboa, por ver que quase metade da edição eram anúncios de penhoras. Eram folhas e mais folhas de editais com a acção implacável e legalíssima do fisco.

Sinceramente, até parecia que alguém, nesse dia, tinha encartado uma enorme resma de folhas de papel cinzento, a velha cor dos mangas-de-alpaca, com notícias e notícias de insucessos familiares e empresariais, todos alinhados em corpo 9 ou outras quase ilegíveis, ou seja recorrendo a letra de tamanho 8 ou menos, com vista a conseguir o máximo de anúncios por página.

Com toda a franqueza, nem as páginas de necrologia eram tão fúnebres como aquelas, pois, por vezes, estas têm fotos de quando os falecidos rondavam a casa dos cinquenta, apesar de terem morrido aos oitenta/noventa e tais anos.

É de lei que os editais de penhoras têm de ser editados. Mas assim, a monte, num conjunto tão grande, num alinhamento correspondente à importância dos bens penhorados, fizeram-me recordar as antigas fotos de família, em que os pais estavam numa ponta e depois se seguiam os filhos por nível etário descendente. Fotos deste tipo que, uns mais que outros, todos guardamos em molduras trabalhadas, quase que diria como filigrana, amarelecidas pelo tempo.

Em tempos não muito distantes, ou dito de outro modo, em tempos de vacas gordas, os anúncios das empresas eram completamente distintos. Muito raramente eram publicadas penhoras, mas havia páginas inteiras, quando, por vezes, não eram mesmo suplementos, a divulgar os relatórios e contas dos chorudos lucros que obtinham, querendo, deste modo, demonstrar a eficácia da gestão e o desenvolvimento impulsionado.

Será que, afinal, a maioria não passavam de fogos-fátuos ou máscaras para iludir gente de boa-fé?

Como tudo mudou!

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:38
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Maio 23 2012

Ninguém tem dúvidas que o governo está a implementar uma brutal política de austeridade. Teria outras hipóteses? Apesar de todos sabermos que existem vários caminhos para chegar a um destino, desde que se queira chegar no momento e na hora certa, a receita não poderá ter muitas variâncias. Milagre da multiplicação dos pães e dos peixes só Cristo e este foi crucificado há mais de dois mil anos.

Contudo, estamos a chegar a um ponto sem retorno, pelo que mais do que nunca é fundamental a mobilização de todos os sectores, para evitar a completa desagregação. Especialmente no sector do ensino – friso, mais uma vez, a palavra ensino – é necessário demonstrar publicamente que se gere bem e abandonar, de uma vez para sempre, o “faz de conta”. Evidenciar o papel da Escola enquanto factor impulsionador do desenvolvimento sustentável do país nunca é demais e, hoje-em-dia, imprescindível.

O que não se pode, efectivamente, fazer é assistir, impavidamente, à destruição da Escola por se andar com salamaleques para aqui e para acolá, passar o dia no beija-mão a este ou aquele, só porque têm algum poder e, sobretudo, tentar passar entre os pingos da chuva sem se molhar. Há que valorizar esta actividade e, principalmente, dignificar os professores, dando-lhes força e poder disciplinar. Mais do que nunca é tempo de mostrarmos de que lado estamos.

Aquilo que ouvimos diariamente nas escolas não é tanto o peso do muito trabalho, da imensa burocracia a que os docentes estão obrigados, apesar de não ser de somenos importância. Acima de tudo, as queixas vão para a falta de educação - no sentido literal do termo -, na indisciplina que grassa no recreio, nos corredores e, fundamentalmente, dentro da sala de aulas.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:44

Maio 22 2012

O tempo – meteorologicamente falando, é claro - está incerto e, fazendo jus a um texto anteriormente, nestas páginas, editado, parece que voltou para trás. Os tempos de chuva e de frio, voltaram e com eles o nosso modo de ser e estar também se altera.

Todavia, sabendo que os dias de Verão não tardarão a chegar, eis-me a reflectir sobre alguns aspectos básicos que podem ajudar a alcançar um novo astral.

É conveniente, começar por reavaliar os nossos objectivos e equacionar quais as metas a alcançar, bem como o caminho onde nos encontramos e aquele que queremos percorrer para chegar ao destino almejado. Depois de o encontrar não nos desviemos. Quanto muito contornaremos obstáculos, endireitaremos veredas, mas sem esquecer de seguir sempre em frente.

Se esta aposta não resultar, (re)direcionaremos a nossa procura. Avaliemos, de forma o mais objectiva possível, tudo o que nos rodeia, detectando onde está o melhor e o pior para nós. Alarguemos o nosso raio de acção e personalizemos - o melhor que soubermos e podermos - os nossos contactos, incidindo a demanda às pessoas certas. Este último item é importantíssimo e pode ser exercido, por muito que nos pareça, à priori, estranho, com ética e elevação.

Também ficará sempre bem possuir uma atitude proactiva. Não nos limitemos a responder somente ao solicitado. Adiantemos respostas – ponderadas, como é óbvio, pois, caso contrário, mais vale estar calado -  e apresentemos questões pertinentes. Cuidado apenas com os conselhos e a intromissão na esfera privada dos outros. Quanto aos primeiros, procuremos dá-los apenas quando nos for solicitado. Relativamente ao segundo, é de toda a conveniência ter presente a máxima popular “cuidados e caldos de galinha nunca …”

Por último, estejamos preparados e disponíveis para os outros. Vamos actuar como se estivéssemos disponíveis para assumir os maiores compromissos no minuto seguinte. Todos gostamos de ver os outros enfocados nas nossas preocupações e preparados para, de imediato, agir. Os problemas da maioria das pessoas são transversais e muitas das suas sensibilidades são comuns. Apesar de ser um lugar-comum, atrevo-me a adiantar que pouco ou nada vale ser, hoje-em-dia, uma ilha, por maior que seja, no meio de um imenso oceano de problemas que a todos afecta. A amabilidade, um sorriso, o sentido de urbanidade, um elogio, a boa disposição, o convívio, entre tantas outras situações agradáveis, na maior parte das vezes, fazem autênticos milagres.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:59
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Maio 21 2012

Dizer que estamos inseridos num meio muito peculiar não é novo e pouco acrescenta ao que a maioria já sabe. Factores como o fraco nível de capacidades empreendedoras, a presença de actividades económicas praticamente informais como a única alternativa para boa parte da população, os baixos níveis de qualificação da população e das organizações, a desestruturação familiar e a fragilidade das oportunidades de desenvolvimento pessoal, assim como sentimentos de insegurança e subdesenvolvimento pessoal têm contribuído para a depressão e exclusão social de muitas pessoas, onde a pobreza influencia – e de que modo! – dinâmicas negativas na vida comunitária e, sobretudo, na escolar.

Sendo certo, como anteriormente aludi, que a pobreza, por vezes, actua sobre o rendimento escolar, também não é verdade que a mesma seja sinónimo absoluto de incapacidade e jamais pode ser considerada paradigma de autoexclusão. Por existirem tantos e tantos exemplos em que variadíssimas pessoas conseguiram dar a “volta por cima” e subir, como se costuma dizer, na vida a pulso, gostaria de saber quantos dos nossos alunos, vivendo no limiar da pobreza ou estando mesmo nela, são capazes de afirmar “se os outros conseguem, eu também sou capaz”, sabendo, de antemão, que este é o ponto de partida para o sucesso.

Ora, na realidade, nunca ou muito raramente ouvimos ou sentimos essa predisposição. Assim, para além de ser péssimo não desenvolverem tal conceito, bem pior é nunca lhes pedir responsabilidades por não o assumirem. Isto sem falar no caso – este sim chocante - de haver sempre um conjunto de pessoas – geralmente aquelas que não os “aturam” diariamente na sala de aula - dispostas a colaborar na farsa que se designa por inclusão (da treta!). O argumento, por tão estafado, já não pega, mas há falta de outro, é sempre o mesmo: é preferível ter o aluno na escola, comendo e bebendo à nossa custa e nada fazendo – no sentido literal da palavra, pois nem os livros passeiam -, insultando os docentes e funcionários, impedindo que os colegas interessados – que, felizmente, ainda os há – de aprenderem, do que andarem a vagabundear pelas ruas e cafés.

Bem sei que esta forma de “educar” interessa a algumas pessoas. É ver o número de docentes que, por escola, se encarregam destes casos. No entanto, o bem de muitos não pode estar subjugado ao interesse de uns poucos.

Como não concordo com esta (pseudo)inclusão, por apenas lhes incutir direitos e jamais deveres, para além de barrarem a pretensão a mais e melhor conhecimento a muitos dos seus colegas, que advogo outra forma de actuar com este tipo de alunos. Há que, de uma vez para sempre, lhes proporcionar um ensino, em instituições mais viradas para a prática e, acima de tudo, onde seja possível impor-lhes regras de cumprimento obrigatório, às quais não poderão “fugir”, preparando-os, desta forma, para uma inserção – profissional e civilmente - na vida activa.

Já agora, por vir a talhe de foice, o outro dia vi um trabalho afixado numa zona nobre da escola sobre os direitos das crianças: direito a isto, àquilo e aqueloutro. Procurei e procurei e não encontrei nenhum que falasse dos deveres. Sintomático, não!

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:27

Maio 18 2012

O tempo em que as pessoas encaravam as suas carreiras numa perspectiva meramente ascendente, qual subida degrau a degrau, onde a conquista de cada um destes significava mais responsabilidade e melhor estatuto já não faz, nos tempos correm, qualquer sentido.

Numa altura em que a maioria dos portugueses tem a sua progressão congelada, outros métodos de gestão de carreira, adaptáveis à nova conjuntura, deverão começar por ir para além da eficiência e da capacidade técnica dos profissionais, i.e., deverão procurar um envolvimento com os projectos, estimulando-os a irem de encontro às suas motivações, independentemente da formação de base que possuem.

Por isso, as carreiras em ziguezague, muito em voga, hoje-em-dia, na generalidade das instituições, mas não na escola, têm-se tornado em dessintonia com a vivência do meio educacional.

Infelizmente, porém, esta é a realidade, uma vez não permitir que as pessoas tenham mais do que o percurso óbvio na sua vida profissional. Está aprovado que dar ao maior número possível de docentes, i.e., não serem sempre os mesmos, a possibilidade de enfrentar diferentes desafios leva-os a abraçarem também múltiplas funções e a exponenciarem motivações dentro da escola.

Ora, não havendo mobilidade ascensional, é dever dos gestores oferecerem a oportunidade de horizontalmente os seus colaboradores se realizarem. Esta “transferência” de pessoas, entre diversos cargos, permite a partilha de experiências, o que garante mais-valias para a escola. Como é lógico, nem todos estão interessados numa carreira género espiral, mas sempre que isso seja possível tal deve ser acarinhado e incentivado, uma vez todos ficarem a ganhar. Já agora, pergunto: em algum momento os docentes são questionados sobre a posição que ocupam e qual a que gostariam de vir a ocupar? Não tenho a menor dúvida que teríamos respostas interessantíssimas, muitas das quais permitiriam conciliar, com maior frequência do que se julga, o interesse da escola com a do professor. Isto desde que se procedesse, num processo honesto de gestão de talentos, à identificação das necessidades de todas as partes.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:26

Maio 17 2012

Tenho perfeita consciência do quanto este texto vai ser polémico. Todavia, não será por receio das reacções que o mesmo irá provocar que, jamais, deixarei de o publicar. Apenas apelo que o mesmo seja epistolado de modo racional e que, em termos emocionais, na medida do possível, a sua leitura seja reduzida ao mínimo.

Como passo a maior parte do dia – profissionalmente, entenda-se – no meio de mulheres, à partida, para grande fracção dos homens, podia-me considerar um felizardo. No entanto – peço, desde já, desculpa às senhoras que me leem e que, julgo, até serem a maioria - não considero ser um privilégio. Bem pelo contrário.

De acordo com um estudo da Women’s Leadership Development Survey, divulgado recentemente, este deixa claro que existe uma grande fatia das mulheres que denotam ausência de uma estratégia ou filosofia definida para o desenvolvimento de cargos de chefia, bem como falham na identificação do potencial e talento que encerram dentro de si.

Não é de admirar, portanto, que falhem igualmente aquando do recrutamento e selecção - a não ser quando apenas se medem e comparam classificações académicas, algo, de certo modo, subjectivo, como, aliás, bem se sabe -, assim como nas experiências de desenvolvimento que apoiem uma evolução profissional, o que, na maior parte das vezes, as torna claramente em desvantagem em termos de igualdade de oportunidades, sobretudo no que se refere a posições de liderança.

Diga-se, porém, em abono da verdade, que uma parte substancial das nossas organizações, sejam elas públicas ou privadas, não possuem a mínima sensibilidade para fomentarem programas e canais que vá ao encontro das especificidades próprias das mulheres, enquanto mães e profissionais. E, aqui, sim, dou-lhes inteira razão nas suas queixas.

Voltando ao início, é minha percepção que uma organização em que a maioria são mulheres, não sendo de todo ineficaz, deixa a eficiência algo por baixo. Tal é fundamentado na eficácia demonstrada, por exemplo, a nível das reuniões, onde se fala, fala, quase chegando a discutir-se o sexo dos anjos, onde o que se podia resolver em uma hora demora duas, três ou mais. Como é evidente existem excepções, as quais, aliás, só confirmam a regra.

As mulheres, por serem mais emocionais, são raros os programas de reforço e incentivo a cargos de chefia que deem frutos. O coaching, o mentoring e a diversidade de géneros de procedimentos, para a maioria, estão longe de ser a solução. Aliás, os especialistas continuam, pelo menos a curto prazo, cépticos quanto a haver soluções, chegando, inclusive, a haver alguns que afirmam faltar ainda muitos anos para que se rompa este ciclo e, por isso, se veja reflectido verdadeiramente o seu potencial.

Já agora, também é minha convicção de que aquelas – infelizmente poucas - que atingem lugares de liderança, o exercem de forma mais dura, para não dizer muito mais despótica, que a maioria dos homens.

Aguardo serenamente as reacções.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:14
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Análise do quotidiano com a máxima verticalidade e independência possível.
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