Por muito que nos custe, temos que nos entender. Todos os dias ouço e faço, a mim mesmo, as mesmas perguntas: o enormíssimo sacrifício que estamos a fazer surtirá efeito? Valerá a pena tanto suor e, sobretudo, tantas renúncias?
A estas questões e outras semelhantes começo a ficar sem resposta, apesar de ser, por natureza, optimista. As pessoas não são cegas e observam que são sempre os mesmos – estava muito longe de pensar que um dia usaria esta frase – a pagar a crise, que os poderes instalados não desgrudam dos respectivos lugares, aliás há muito ocupados, que os “grandes” continuam a vencer ordenados indecorosos e ainda têm a lábia de se justificarem, conseguindo – será por não terem vergonha ou acharem que somos todos parvos? - argumentos para se defenderem, e, para cúmulo dos cúmulos, até começo a ouvir aquela velha ladainha de que “muda-se de moleiro mas não se muda de ladrão”.
Por isso, face a tantas penitências – quase diria trabalhos forçados (!) - começo por indagar ao governo, o qual ajudei, convictamente, a eleger e que continuo a apoiar, o seguinte:
- Pode um carro circular nas estradas portuguesas em apenas duas rodas? E os motociclos em apenas uma?
- Será aceitável que um homem faça a barba apenas numa das faces, isto é, se apresente bem escanhoado do lado direito e barbudo do esquerdo? Isto sem querer dar a esta frase qualquer conotação ideológica.
- Será curial, num restaurante, pedirmos uma garrafa de vinho e servirem-nos apenas meia, apesar de pagarmos pela totalidade?
- E podíamos andar com um pé calçado e outro descalço?
- Já agora, sabendo que o futebol continua a ser rei e senhor neste rectângulo à beira-mar plantado, os jogos poderiam apenas durar quarenta e cinco minutos?
É mais que óbvio que, a estas e a muitas outras questões, só uma resposta é plausível: NÃO!
Então, por saber que a resposta é negativa, e tentando fazer, deste modo, alguma similitude, é que começo também a duvidar de que com tantos cortes nos ordenados, extinção de subsídios, aumento de impostos e crescente desemprego possamos continuar a sobreviver. Uma vez que viver, para a maioria, já é impossível.