Vi-a, o outro dia, passados que foram mais de dois anos desde o nosso último encontro. E manda a verdade dizer que, em todos os aspectos, acrescentou predicados acima das melhores expectativas. Não sei se foi através do reconhecimento (espontâneo!) das suas capacidades, das quais nunca duvidei, se foi pela compreensão das mensagens, embora sublimadas, que, com toda a certeza, eu e outros lhe dirigimos. O certo é que mudou e mudou para melhor. Quase que me atreveria a acrescentar que apenas o nome é o mesmo.
Já o escrevi e repito: a mudança é sempre um momento de expectativa e de grande carga emocional. Todavia, quando se encara a mudança, como, aliás, teve oportunidade de me dizer, enquanto bebíamos um café, como um novo desafio e oportunidade de melhoria, a expectativa transforma-se, de imediato, em entusiasmo, alegria e vontade de chegar mais longe.
Tendo mudado de emprego, abraçou a nova oportunidade com transparência e rigor, demonstrando um espírito de frontalidade que, pessoalmente, sempre soube que a caracterizava, mas por muito que lho dissessem que eram, em si, talentos natos, havia uma parte (substancial) dela que não acreditava.
Gostei de a rever. Os poucos minutos pareceram segundos. Bem sei que é daquelas frases feitas mas, à falta de outra – insuficiência minha - e por ser verdade, aqui a deixo. Era apenas nosso objectivo colocar, de certo modo, a conversa em dia, No entanto, o diálogo foi muito mais para além. Notei-lhe um propósito sólido. Uma vontade de se afirmar como pessoa energicamente empenhada em apresentar soluções para a vida, mas simultaneamente carente e ávida de uma entrega apaixonada, apesar de continuar a notar nos seus belos olhos de amêndoa doce aquele rasgo de independência – diga-se, de passagem, que se assim não fosse me desiludiria enormemente.
Acima de tudo, demonstraram-se sinais de esperança como quem procura soluções para a vida. Seja através de uma carreira profissionalmente bem-sucedida, seja através da meiguice a que a entrega pura e simples apenas dá. A preocupação com o bem-estar, a flexibilidade da conversa, sem em momento algum querer impor a sua vontade, e o modo de ser foram relevantes.
Ao despedir-se, num gesto dedicado, mas tendo presente o sentido do lugar, afirmou que a afectividade não se ganha – disse primeiramente conquista, palavra que depois retirou - nos primeiros tempos, pois nestes tudo é fácil, explicável e, sobretudo, desculpável. Quanto muito, demonstra-se interesse, acrescentou de seguida. A verdadeira afectividade, sinónimo de lealdade e de uma entrega dual e total, somente é demonstrável passado uns anos. Aqui sim, é a autêntica “prova dos nove”, rematou enquanto o beijo ressoava na face.