O silêncio, a tentativa de camuflagem, a evasiva, as meias-palavras, numa tentativa de ocultar factos graves, como fosse possível esconder o gato e deixar o rabo de fora, são modos de agir dos tempos modernos, com os quais, por muito que me esforce, não consigo acompanhar.
Outro nível de actuação, hoje muito comum, é o recurso à demagogia e ao populismo. A verborreia e o gosto de se ouvir, numa óptica de quase puro narcisismo, são, infelizmente, prerrogativas quotidianas cada vez com maior pendor. Como é lógico, o estar permanentemente calado não é, de modo algum, curial. Todavia, emitir opinião sobre tudo e sobre nada, falar acerca dos mais variados assuntos, demandando exemplos a propósito e a despropósito, alguns deles inventados ou muito bem enfeitados com vista a melhorar o efeito, tudo isto apenas com o intuito de se fazer ouvir e/ou dar nas vistas, também não é conforme o devido. Se outros exemplos não existissem, bastava atentar nas reuniões a que obrigatoriamente assistimos para atestar a veracidade do anteriormente escrito.
O falar concisamente e de modo assertivo é cada vez mais raro. E porquê? Pela simples razão que tal preconiza obrigatoriamente preparação antecipada, o que, como é óbvio, dá trabalho, hoje-em-dia, coisa invulgar.
Os políticos foram e são mestres nesta arte, i.e., o de falar e falar sem que, a nível do constructo, digam algo. O exemplo foi descendo, trespassando, cada vez mais, os diversos sectores da sociedade, sendo presentemente razão de querela, por ser muito comum, em quem nos rodeia.
Por outro lado, somos especialistas em ver tal erro nos outros e, nessa ordem de ideias, revoltamo-nos e barafustamos contra tal, para além de dizemos alto e em bom som que não há direito, sobretudo, quando nos faz perder imenso tempo. Todavia, muitos existem que quando chega a sua vez fazem o mesmo senão pior, fazendo lembrar quando estamos numa fila aguardando o tratamento de qualquer assunto. Só temos pressa antes de chegar a nossa vez. Aí chegados, expomos e requeremos todos os esclarecimentos, o mais pormenorizadamente possível, e ai daqueles que não satisfaçam os nossos desejos, por muito insignificantes e desnecessários que sejam, tal como, a partir desse momento, jamais admitimos que alguém ainda na fila se indisponha pelo excessivo tempo que demoramos.