Aquilo que se temia, e que tive oportunidade de referir - haveriam de aparecer várias “Madeiras” - aí está. O “buraco” financeiro das autarquias ascende a 12 mil milhões de euros, sendo que um quarto desta dívida é de curtíssimo prazo. Dito por outras palavras, o Estado – todos nós, afinal – terá de injectar, por estes dias, cerca de três mil milhões de euros, uma vez que autarquias existem que nem dinheiro já têm para pagar aos seus funcionários.
Na maioria das nossas câmaras municipais a situação é explosiva, não porque não recebam muito dinheiro – directamente do Estado e das enormíssimas taxas que nos cobram -, mas porque se costumaram a gastar muito mais do que os proventos. Tudo porque os seus mentores, mandato atrás de mandato, e independentemente do respectivo cariz político, estavam e ainda estão pouco preparados para uma vida política de exigência e de rigor. Se são bons em algo, quanto muito, é no populismo e na demagogia. Aqui, nestes contextos, imperam e são reis e senhores. É só visitar este país e veremos que não existe terreola, por mais recôndita que seja, que não tenha várias rotundas, algumas com enormes e caros repuxos, pavilhão gimnodesportivo de último grito, lombas e mais lombas, clube de futebol, onde apenas meia dúzia de gatos-pingados fazem prática desportiva, mas serve, às mil maravilhas, para os “Bokassas” da terra se enaltecerem, centro médico, posto de correios, o qual serve apenas para os velhotes levantarem a pensãozita, escola e infantário para meia dúzia de crianças, lar de dia (e de noite), entre tantas outras valências.
Com estas minhas palavras não quero dizer que estas populações não tenham direito a estes serviços. Uma coisa é o direito. Outra, porém, é a rentabilidade, a qual se for negativa, como são a grande maioria daqueles casos, alguém tem de pagar. Como é lógico, eu também gostaria de ter ao pé da minha casa todos aqueles serviços e até outros. Mas quem, mensalmente, pagaria a factura? As pessoas que vivem nos grandes centros urbanos? Mas estas também se queixam, tanto ou mais que as outras, e dizem não aguentar mais impostos e taxas. Isto para além de, justamente, reivindicarem igualmente serviços que lhes estão a ser cortados.