Bem sei que, mais uma vez, me vão acusar de ter, por vezes, sonhos completamente utópicos. Tudo bem, pois assumo tal quimera, mas quem alguma vez na vida não teve sonhos que atire a primeira pedra.
Gosto de reflectir sobre a ideia, sinceramente fascinante, de acelerar no ser humano, e particularmente nos adolescentes, i.e., aqueles que de mais perto lido, o processo de aprendizagem. E estou a ver-me a participar num cenário de um filme conectado a uma máquina de aprendizagem, uma espécie de ensino sem fios, através de uma ligação tipo bluetooth, em que de um lado se encontram conhecimentos, atitudes, comportamentos, valores, convicções, teorias, práticas técnicas, experiências, conteúdos, etc., e, do outro lado, outro ser totalmente aberto à recepção do saber, qual plataforma ávida de aprender e apreender, tipo terra ressequida ansiosa por água. Oh, como queria que tudo isto decorresse de modo que o cérebro, o coração e as circunstâncias que rodeiam os que diariamente estão à minha frente estivessem desejosos de efectuar a migração de conhecimentos.
Todavia, colocando os pés assentes na terra, ou seja, descendo à realidade brutal do nosso quotidiano, constato que a aprendizagem é, em primeiro lugar, um exercício de vontade: de aprender, qual elo motivacional fundante de uma cadeia de valor complexa que exige, ainda que eventualmente mal comparado, por um lado, endogenia e, por outro, exogenia. E tudo isto com pouco de lúdico e muito menos de brincadeira.
É que sem essa atitude primária da pretensão do saber, absolutamente essencial, bem podemos colocar apoios e tutorias, tecnologia e recursos humanos, bem como prémios, que não se evolui. Para aprender é preciso querer.
Por outro lado, a quem agrada a ideia de que existe aprendizagem sem esforço? O esforço, está mais que provado, é uma condição si ne qua non e jamais uma variável do problema. A velha pecha - durante décadas fez parte da formação dos docentes - de que a brincar também se aprende fez tanto mal a este país que, apesar de abominar a inquisição, quase me atrevo a dizer que os seus impulsionadores deveriam ser queimados vivos.