Historicamente, dizem os sociólogos, os processos sociais de transição e adopção de novos valores e atitudes só começam a fermentar quando os valores e as atitudes de uma qualquer sociedade se esgotam por exaustão e incapacidade de se manterem. A psicologia, pelo seu lado, explica-nos que o mesmo acontece com as pessoas.
Isto é o que se passa em qualquer parte do Mundo. Todavia, entre nós, desgraçadamente, a transformação da mentalidade colectiva vai-se fazendo não por interiorização, mas sim por imposição exterior. E é pena!
Os resultados estão à vista: falência da educação, desprestígio da justiça, despudor na corrupção, desprezo pela agricultura, primado das aparências, crescente sentimento de frustração e descrença com que os servidores da política são encarados, entre tantas outras maleitas.
Muito mais que mudar a economia, é necessário que tenhamos capacidade de mudança radical de estilos de vida, valores e mentalidades. Não vale a pena carpir mágoas por perda de empregos, falta de dinheiro ou menor segurança social, pois tais fracturas só são possíveis de reparar com novas posturas. De que vale queixarmo-nos do comportamento do vizinho, do colega de trabalho, do ambiente das nossas vilas e cidades, se, pelo nosso lado, em casa, no emprego, nos nossos momentos de ócio, procedemos igual, senão pior?
Tendo consciência de que, para além de seres individuais, com personalidade própria, com direitos, como é óbvio, temos deveres para com a sociedade, há que estabelecer, de uma vez para sempre, um facto irrefutável: não nos podemos arvorar a moralidades individuais e muito menos a acções que levem à propensão de um narcisismo exacerbado. O slogan “se eu não gostar de mim, quem gostará?”, tanto em moda, deverá ser substituído por se eu não demonstrar, em primeiro lugar, quanto gosto dos outros serei digno de mim?.
P.S – Soube-se hoje que o novíssimo aeroporto internacional de Beja, cujo custo ascendeu aos 33 milhões de euros, e que continua a custar um balúrdio em manutenção diária, teve nos últimos quatro meses (apenas!) 798 passageiros. Palavras para quê? Trata-se de mais uma grande herança socratina.