Crise, crise e mais crise. Falamos da crise a torto e a direito, servindo-nos dela para tudo e para nada. Entra-nos, diariamente, porta adentro, como se fosse um reality show, só lamentando que seja de última categoria. Muito se tem falado da crise, como se esta fosse uma nova pandemia que, de repente, sem intervenção de ninguém, a não ser os maus – quem são, onde estão? – se disseminou pelo mundo.
Todavia, na realidade, esta fase em que vivemos é uma das últimas e consequentes etapas da monstruosa crise de valores que se arrasta desde os finais do século passado. Tudo se considera relativo e os novos deuses (mercado, economia, virtual, etc.) têm, infelizmente, muitos seguidores. É normal transaccionar dinheiro e bens virtuais. Bom, deu no que deu. É normal comprar roupa de marca a preços surreais, fazendo os possíveis por ignorar que foram produzidos em países cuja mão-de-obra é paga como nos tempos esclavagistas. É normal educarmos os filhos dizendo sempre sim, uma vez que o não é traumatizante. Depois queixamo-nos! E, claro, fazemos tudo isto ao mesmo tempo que vamos, de vez em quando, dando um dinheirinho para causas que aparentemente nos aliviam a consciência.
É por demais evidente que o “rei vai nu”. No entanto, continuamos a assobiar para o lado e achamos que até vai bem vestido. Aliás, não é por acaso que somos um dos países que apresenta recordes de audiência nos verdadeiros reality shows que, paradoxalmente ou talvez não, retratam exactamente a norma social vigente.
Mas tenhamos esperança. O tempo o dirá! O paradigma está a mudar e algo de novo, obrigatoriamente, surgirá! Qual, não sei? Mas a terra é redonda e, como sabemos, a história repete-se. Aguardemos, então, pelos próximos capítulos.
P.S. – Para quem está atento aos media não lhes deve escapar a onda de contestação às políticas governamentais, vaga sempre cavalgada por sindicalistas e activistas de primeira linha do PC e BE. Os ocupas, que, invariavelmente, não passam de meia dúzia em cada acção – vejam-se os casos dos Ministério da Educação e da Economia, bem como das SCUT -, geralmente após conseguirem os almejados cinco minutos do telejornal, desmobilizam. Todavia, numa primeira análise, conseguem os objectivos.