É costume afirmar-se, no meio jurídico, de que nem tudo o que não é proibido é permitido, tal como tenho para comigo que, na vida, à luz da ética e da moralidade, nem tudo o que não é ilícito é admissível.
Vêm estas palavras a propósito de algumas posturas – em termos de vestir e calçar, como é lógico – que encontramos nas nossas escolas. Como é evidente não há nada na lei geral, bem como na maioria dos regulamentos internos, que diga o modo como os docentes, funcionários e alunos se devem vestir e calçar. Todavia, isso não permite, a quem quer que seja, vir para a Escola tal como se fosse, por exemplo, para a praia.
Não pretendendo, de modo algum, sacralizar a Escola, esta é, porém, um lugar onde se traça, hoje, o modo como a sociedade, no futuro, se comportará e desempenhará, com maior ou menor eficácia, as suas obrigações. Todos sabem e, muitas vezes, até à saciedade, mas não resisto a, mais uma vez, expor o axiomático: a Escola não cumpre a sua função, se não for responsável, rigorosa, educadora, na verdadeira acepção da palavra, modelo de valores, onde os adultos, sem quaisquer margens para dúvidas, sejam, em todos os campos, exemplos para os jovens.
Sem ser excessivamente pudico, mas possuindo uma visão da Escola, em que a integridade e a honestidade não são palavras vãs, em que o sentido formal do acto de ensinar, se conjuga quase em absoluto com o modo de ser e estar, pergunto: como se pode exigir decoro a alunos e alunas quando vemos funcionários e docentes de calções e sandálias de enfiar no dedo, ou seja, trajando em moldes não diferentes do modo como vão para a praia?
Recordando a polémica, bem como as enormes resistências que, em tempos, sofri por ter procurado manter o decoro dentro dos muros da escola, responderei, desde já, que, apesar de compreender que existam várias versões/ideias sobre este assunto, entendo, bem como muita boa gente – lamento apenas o seu silêncio -, que existem aspectos comuns que todos comungamos. Correndo o risco de ser vilipendiado, motivo de risota até, indago: será aconselhável que, por exemplo, uma docente venha dar aulas de mini-saia e de top curtíssimo, cujo decote lhe chega quase até ao umbigo e ombros desnudados? Será que os adolescentes e jovens se concentrarão na matéria, por muito que esta, pedagogicamente, seja bem dada? Ou será curial que um professor compareça numa aula de calções e sandálias de praia? Como se sabe, outros exemplos, mais ou menos semelhantes, poderiam ser relatados.
Depois queixamo-nos da indisciplina, não compreendemos os motivos que levam a que as escolas privadas estejam cheias e com extensas listas de espera, constituídas, inclusive, por filhos de docentes da escola pública.
Os culpados? Todos sabemos quem são!