Inseridos num frenético ritmo de vida, apesar da baixa produtividade, ansiamos constantemente por tranquilidade, requinte e bem-estar. E, para além disso, ansiamos quase permanentemente por estar em casa e/ou em férias. Somos feitos de uma determinada massa que, cada vez mais, tenho receio que jamais venha a ter outra composição.
Afinal, o objectivo mais premente, de modo algum é o maior e mais eficaz desempenho profissional ou familiar, mas sim o descanso. Este ameno clima, este sol que nos ilumina e que tem um brilho com um não sei quê de especial, este céu de um azul incomparável, esta gastronomia de comer e chorar por mais, esta bonomia de costumes que faz de nós não só parentes mas, fundamentalmente, amigos uns dos outros, este corporativismo que nos caracteriza e nos impede de fazer justiça, isto para não falar de sangue, esta crença na regeneração do outro – veja-se como continuamos a confiar em José Sócrates – que nos permite preferir a ilusão à realidade, tudo nos encaminha para o doce remanso.
Não acreditam? Observem, então, o rosto aliviado da maioria após o Primeiro-Ministro ter avançado, anteontem, com a não existência de novos cortes nos salários, nem despedimentos, que os subsídios de férias e Natal serão pagos como sempre foram, e digam-me se não tenho razão. Aliás, não é por acaso, que a marcação de férias cresceu de imediato, conforme tem noticiado os media.
Segundo reza a História, os portugueses tiveram um papel importante na construção da notoriedade do ocidente, dando, como disse o poeta, “novos mundos ao Mundo”. E, não haja dúvida, tal postura permitiu enorme circulação de pessoas e bens, possibilitando igualmente uma economia que tinha tanto de pujante como de falsa. É que, depois de nos termos identificado com a entrada de dinheiro fácil – têxteis e especiarias do Oriente, escravos de África, ouro do Brasil, fundos da CE, entre tantos outros -, pouco fizemos por nós próprios. E, por muito que não o queiramos admitir, ao longo dos séculos, tornámo-nos, de certo modo, preguiçosos, pelo que, como hoje os nossos principais parceiros afirmam, raramente fazemos “o trabalho de casa”. Aliás, não é por acaso que somos conhecidos como um povo de brandos costumes.
Por isso, importa, agora, criar as condições necessárias para que possamos, de uma vez para sempre, inverter tal estado. Todo o cuidado é pouco para que a chama da esperança permaneça acesa.