A semana passada foi o caso de uma aluna violada por quatro colegas, sendo que, passados três dias, voltou à escola para se cruzar, de novo, com os violadores – imagino o seu sofrimento -, pois estes, para já, não foram objecto de qualquer sanção. A suspensão imediata destes meliantes não ocorreu a ninguém, ou melhor, lembrar até lembrou, mas dava muito trabalho e incómodos. Por isso, o melhor foi nada fazer e esperar que o tempo faça assentar a poeira. Aliás, neste e noutros campos os jornalistas e bloggers são uns chatos, uma vez que, se não fossem estes, pouquíssimos saberiam e, sobretudo, nada seria comentado.
Ontem, foi o caso da divulgação, no YouTube e Facebook, de um vídeo em que se vê uma adolescente de treze anos a ser violentamente agredida por duas colegas, num acto de pura selvajaria. Tudo isto acontece, assiste-se, filma-se e, já agora, acha-se normal, pelo menos da parte destes últimos. Mais uma vez, pelo menos de imediato, não se age. Vão-se efectuar uma série de averiguações, ouvir-se-ão os participantes e respectivos progenitores, bem como diversos especialistas na matéria, sendo que metade apresentarão perspectivas antagónicas em relação aos restantes, e como, entretanto, o caso irá cair - fatal como o destino - no esquecimento, mais dia ou menos dia, arquivar-se-á.
Resta a mensagem. Em primeiro lugar para os pais. Todos sabemos, apesar de, por vezes, dar imenso jeito esquecer, que os primeiros responsáveis pela educação dos filhos são os pais. Em segundo, em terceiro e em quarto lugar continuam a ser igualmente os progenitores. Depois, sim, é que virá a restante família, os meios de comunicação, a escola e muitos outros. Bem sei que dá uma “trabalheira” dizer que não aos filhos, que causa enormes engulhos obrigá-los a cumprir as tarefas naturais e inerentes à sua idade. É que, para além da obrigação maior que é estudar, ajudar a arrumar a casa, fazer uma ou outra refeição mais ligeira, lavar o carro, bem como outras tarefas que, não os sobrecarregando, lhes incutam o valor do trabalho, são de uma utilidade extraordinária. Já lá diz o ditado “o trabalho do menino é pouco, mas quem o despreza é louco”. Não se trata de trabalho infantil, longe disso, mas de lhes fazer ver que as mais pequenas tarefas exigem esforço e têm valor.
Todavia, nesta matéria, à escola também se encontram assacadas enormes responsabilidades, tanto mais que os adolescentes e jovens ali passam grande parte das horas do dia. E aqui grassa, muitas vezes, a impunidade, o deixa andar que amanhã é outro dia. É um dado adquirido que a violência entre os jovens sempre existiu. Nova, nova é a sua aceitação. Hoje-em-dia para muitos jovens o recurso ao palavrão, à violência verbal e física é o pão-nosso de cada dia. Se isto nos causa admiração, o mais estranho é haver adultos que ao presenciar tais comportamentos viram a cara para o lado, fazem ouvidos de mercador e são mais cegos que os próprios cegos. Isto para não falar dos órgãos de gestão e quejandos, os quais, essencialmente, por comodismo, permanecem dia após dia atrás das suas secretárias, ou em reuniões, muitas das quais perfeitamente desnecessárias, demonstrando, assim, não querer saber do que se passa nas aulas, nos corredores e nos átrios das suas escolas. Aliás, o pouco que lhes chega ao conhecimento, ainda por cima, é desvalorizado, dizendo, por um lado, que não passam de exageros próprios da idade, e, por outro, não agindo com receio de serem apelidados de autoritários.
Depois, a retórica de uma pseudo-esquerda que, infelizmente, enferma muitos docentes e da qual não se conseguem libertar, leva-os a uma prática em que existem argumentos desculpabilizantes para tudo e todos. Já todos ouvimos as estafadas justificações de “proveniente de um meio social desfavorecido”, “oriundo de uma família desestruturada”, “filho(a) de um toxicodependente ou prostituta”, “cada caso é um caso”, entre tantas outras, como isso fosse, per si, anátema ou doença incurável.
Há que, de uma vez por todas, responsabilizar, independentemente, da sua origem, credo ou raça, todos aqueles que extravasam as regras da boa educação e cidadania. E a imposição - não há que ter medo da palavra - dos preceitos de urbanidade tem de ser feito urgentemente, sem peias ou receios, tendo sempre presente que, nesta e noutras matérias, é de longe preferível pecar por excesso do que por defeito.