Quando jovem, a política, para mim, sempre foi vista como motivo de debate e de análise e jamais como profissão. Hoje, observo que perdi oportunidades que tarde ou nunca mais alcançarei. A ideia de uma pseudo-independência, hoje sabiamente inexistente, paga-se caro.
A verdadeira revolução de mentalidade, como os respectivos manuais especificam, faz-se por volta dos vinte anos, apetrechando ideologicamente o interior, (des)materializando ingenuidades, eliminando e simplificando caminhos. Caminhos estes que, hoje em dia e de modo até faustoso, são vistos de modos distintos, ou seja, não tão inúteis e anquilosantes como se julgava.
A ousadia denotada nesses tempos, mais que uma revolução mais ou menos ruidosa, pretendia aniquilar a burocracia interior e exterior, encurtando e aplainando vias - ainda que, nos dias de hoje, infelizmente, algumas delas continuem a ser consideradas sufocantes - traduzindo-se numa efectiva e genuína prestação de serviço público.
Ao ruído juvenil sucede não o silêncio total, mas um salto para a idade madura, apesar de constantemente acharmos que estamos remoçando. O certo é que aquela só se consolida pela alteração das mentalidades, especialmente quando as práticas cuja transformação reclamamos, escondem privilégios, quase sempre herdeiros dessa casta de pessoas que gostam, de inventar dificuldades para, insidiosamente, melhor conseguirem vender facilidades.
Mudando um pouco o sentido da agulha, o certo é que ninguém quer regressar ao tempo em que só visionários acreditavam ser possível possuirmos menor e melhor Estado. Tampouco, podemos aceitar que a geração que desempoeirou e simplificou a vida a milhares de cidadãos seja acusada de obstruir o desenvolvimento do país. Por isso, tenho algumas dúvidas sobre as verdadeiras intenções da designada “geração à rasca”. Mas, atenção, não enjeitemos culpas. Temo-las e não são poucas, pois também são criação nossa.
Contudo, ao mesmo tempo que não devemos rejeitar responsabilidades, pessoalmente recuso-me a pactuar com muitas das acusações que fazem a uma geração, a que honrosamente pertenço, a qual, igualmente e no seu apogeu, foi muito sacrificada. Ter outra postura seria, no mínimo, conivente com um acto de injustiça, bem como reconhecer que fazer política nos dias de hoje, jamais poderia ser algo de nobre, isto é, ao serviço de todos, sem excepção. É que, felizmente, pessoas ainda existem, as quais apesar de pertencerem a uma geração, por vezes, injustamente, chamada de acomodada, continuam apostadas em ensaiar e a desarmadilhar toda uma série de velhas ideias que, quotidianamente, alimentamos sobre estas matérias.