O prometido é devido, já lá diz o ditado. É, pois, chegado o momento de efectuar o balanço do ano findo. Como é óbvio, será uma leitura pessoal e, certamente, redutora, uma vez que este local não é propício a grandes textos. Será perspectivada por áreas governamentais, podendo aqui e ali falhar numa ou noutra abordagem, dado que algumas existem para as quais a minha atenção não é a mais preponderante. Por outro lado, por uma questão de interesse muito pessoal, mas também numa óptica de abertura de apetite, deixarei para o final do texto – dividido por vários dias, como não podia deixar de ser – os sectores que, no meu entendimento, mais polémicos foram.
Presidente da República – denotou ser o eixo de estabilidade no país, último garante da sobriedade e parcimónia na gestão dos assuntos de Estado. Com altos e baixos, felizmente mais aqueles que estes, deveria ter pautado, em determinados momentos, a sua actuação de modo mais interventivo, a qual, com toda a certeza, será objecto de revisão em próximo mandato. A demanda quase constante, fatalista até, da cooperação estratégica não pode, de modo algum, ser obstáculo à denúncia dos desmandos governamentais.
Assembleia da República – apesar de ter alavancado melhorias relativamente a 2009 – mais interventiva e fiscalizadora -, mercê do governo ter perdido a maioria absoluta que dispunha na legislatura anterior, mesmo assim termina o ano em desonra ao aprovar uma nova lei de financiamento partidário que, em vez de reduzir os gastos com estes apoios, os agrava em cerca de 21 milhões de euros. Ora, numa altura de crise, em que todos temos de reduzir os gastos e, sobretudo, os cidadãos têm que viver com menos dinheiro e adquirindo os bens mais caros, tal procedimento deixa pelas ruas da amargura a credibilidade da nossa classe política. Tudo isto para não falar nas imensas comissões – “Freeport”, “Face Oculta”, “Magalhães”, entre tantas outras -, as quais terminaram em autênticos flops.
Primeiro-Ministro – foi um autêntico faz de conta. Fez de conta que governou e apenas tentou enganar os portugueses; fez de conta que enfrentava a crise económica e mais não fez que, qual D. Quixote, lutar contra moinhos de vento; fez de conta que vivia noutro país, pois as suas intervenções adequavam-se a tudo menos à nossa realidade; fez de conta que controlava o despesismo desregrado do Estado, uma vez que o abastardamento das contas públicas nunca, como agora, foi tão grande; fez de conta que mandava no país, mas unicamente empatou, já que a política real foi “deixa correr, pois quem vier atrás que feche a porta e apague a luz”. Continua agarrado ao poder, pior que a lapa à rocha, incapaz de se demitir e, consequentemente, provocar eleições, pois, de antemão, sabe que, neste momento, levaria o maior baldão que algum político alguma vez levou. Em suma, um autêntico fiasco.
(Continua)