A maioria fala, mas é silenciosa. Apenas murmura ou comenta pela calada. Também não admira, uma vez que a desconfiança está instalada, já que o que lhes parece hoje, amanhã constatam o inverso. O medo instala-se, quanto mais não seja porque continua, em cima da mesa, a famigerada avaliação de desempenho, centrada, cada vez mais, em conceitos subjectivos e envolta em forte nebulosidade.
A gravidade dos factos é indesmentível. Todavia, apenas se alude a tais casos de uma forma muito cuidada e olhando sempre para o lado, pois não se sabe quem está a escutar. Referir os casos em voz alta é profissionalmente desadequado e politicamente incorrecto. Aliás, se alguém se lembra de que tais episódios – gravíssimos, como são os ocorridos nos últimos dias – devem ser objecto de inquérito e passados a escrito, logo aparecem os boys e as almas condoídas a borrifar água sobre a enorme fogueira, numa tentativa de “tapar o sol com a peneira”.
Por meros indícios, que, posteriormente, se vieram a constatar inteiramente infundados, em tempos que já lá vão, escreveram-se linhas e linhas de prosa e, pelo menos, uma acta fez eco daqueles. Hoje, porém, abafa-se e quando alguém alerta para os casos “assobia-se para o lado”.
E, como é óbvio, o fogo alastra e ameaça chamuscar tudo e todos. Que ninguém pense estar imune aos efeitos de tal devastação. Basta recordarem de que se o número de alunos decresce, isso tem correspondência directa com os docentes necessários. E tal número decresce, fundamentalmente, por dois motivos: por efeitos da natalidade, o que, à priori, é alheio à escola e por efeitos de indisciplina e insegurança, o que é muito mais grave. Com a mobilidade das pessoas a aumentar de dia para dia, não nos admiremos que os pais comecem a pensar em levar os seus educandos para outras bandas. Aliás, não é por acaso que as escolas privadas, apesar da crise, continuam cheias e com uma lista de espera bem considerável.
Entretanto, os casos de violência escolar, de consumo de tabaco e de outras substâncias bem mais graves, isto para não falar de outros casos, é quase o pão-nosso de cada dia. E indaga-se: onde está o exercício da autoridade? de que vale o gabinete de apoio ao aluno e prevenção da indisciplina? o que fazem, nas muitas horas que possuem para tal, os respectivos elementos? onde se encontram os inquéritos, os processos disciplinares e as respectivas sanções disciplinares?
Só não vê quem quer. Os casos sucedem-se diariamente e não se descortina a intervenção de quem quer que seja. Ah, como agradecíamos a visita dos principais responsáveis, quer sejam escolares, autárquicos ou outros. Até parece, como alguém o outro dia dizia, que ninguém quer saber …