Ele, em tempos, bem o afirmou. Todos se lembram, apesar de alguns contraporem de que não tinha passado de um lapsus linguae. Outros, porém, leram, naquela expressão, um rasgo de verdade, asseverando que tinha sido a única vez que o homem tinha falado verdade, apesar de reconhecerem que não era bem aquilo que queria dizer. É que, fundamentalmente, sem querer, tinha-lhe fugido a boca para a verdade.
E, chegados a este momento, eis a verdade nua e crua, em tempos, pelo senhor engenheiro, anunciada: transformou-nos, efectivamente, num país pobre, cada vez mais paupérrimo. Já em tempos, desgraçadamente andámos de mão estendida, mas como hoje nunca se viu. Mais pobre que isto jamais fomos. Chegámos ao cúmulo de até Timor-Leste, um país pobre de entre os mais pobres, uma nação que tanto ajudámos e continuamos a ajudar – e ainda bem - declarar estar disposto a comprar alguma da nossa dívida.
Já agora atentem neste pedaço de prosa escrita, em 17.12.1870, no jornal A Lanterna: O governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo. Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo: empréstimo e impostos (…) É dinheiro emprestado e dinheiro espoliado. (…) E, por fim, não é dinheiro aplicado a nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida e endividar-nos cada vez mais! (…) É a dívida a multiplicar-se para não faltar à corte, banquetes, festas, caçadas e folias!
Tirando a parte monárquica e o local do endividamento, podemos perguntar: qual a diferença com os dias de hoje?
Imagino as voltas no túmulo que os nossos antepassados - aqueles que deram mundos ao mundo, por quem os nossos corações se enternecem e imploram a sua bênção e por quem cantamos hinos de louvor - não devem dar.