O que se passa ao nosso redor não pára de nos surpreender. No final deste ano atingiremos a meta de 7 000 000 000 de habitantes neste planeta. E se pensarmos que no final da II Grande Guerra não passávamos de uns “míseros” 2 500 000 000 de pessoas, então a nossa admiração ainda se manifesta de forma mais acutilante. Todavia, apesar do aumento exponencial da população, não resta margem para dúvidas que, se soubéssemos dividir fraternalmente, se fizéssemos contas com o coração, todos teríamos, pelo menos, direito ao acesso de água potável e comida sem grandes constrangimentos.
Por outro lado, se pensarmos bem, ainda há poucas décadas, um nativo europeu nascia e vivia com uma consciência da dimensão de espaço disponível, que abraçava uma área limitada. A noção de dimensão que tinha era pouco mais que a consequência da observação directa do seu meio e daquilo que imaginava através de estudo mais ou menos aturado sobre a informação – aliás, pouco diversa - que lhe chegava
As notícias que se tinham do Mundo eram, essencialmente, disponibilizadas por interpostas interpretações. Raramente por interacção directa, pois os tempos de acesso eram de tal modo extensos, comparados com os que actualmente vivemos, que outra coisa era impossível de imaginar.
Contudo, embora todos estes factos tenham condicionado a forma como então se vivia, e sendo também verdade que as informações eram escassas porque não havia capacidade de recolher rapidamente muita informação e muito menos capacidade para a tratar e enviar em simultâneo, o certo é que solidariedade, a entreajuda, a compreensão e o companheirismo eram muito maiores.
As gerações de hoje podem não compreender a forma como a mobilidade era exígua, como as grandes deslocações se transformavam, maioritariamente, em carácter permanente, mas têm de aceitar que a vida, nessa época, tinha mais encanto. Com isto não quero dizer que a vida de hoje não mereça ser vivida. Com certeza que sim. Todavia, dia após dia, nota-se uma crescente ausência de cooperação, onde o individualismo é acirrado e o egocentrismo tolerado, chegando, muitas vezes, a ser rei e senhor. Por isso, não podemos estranhar quando ouvimos muito boa gente dizer que há que regressar às origens.
Costuma-se dizer que quando começamos a ter saudades do passado é porque temos a percepção de que a idade é já alguma. Acreditem que, felizmente, não é esse o caso e muito menos posso ser acusado de saudosista. Mas, em tempos não muito distantes, o homem, claramente, sentia-se maior porque não se perdia no Mundo, pois a quantidade de informação que necessitava de adquirir e processar era limitada.
O não cumprimento da palavra dada, a desagregação da família, a desconsideração pelos mais velhos e a inexistência de respeito pelo transcendente, levam-me a dizer que, em tempos, a vida era mais fácil.
Mas sejamos optimistas. Amanhã a mudança irá acontecer e alavancará um novo rumo.