É evidente que no caso do comboio de alta velocidade, comummente designado por TGV, o governo não quer admitir que, mais uma vez, por força das circunstâncias, é obrigado a claudicar. Ora, depois de já ter guardado na gaveta tantos e tantos projectos emblemáticos – novo aeroporto, novas auto-estradas, terminal de Lisboa, Metro do Mondego, ampliação do Metro do Porto, entre muitos outros – mais um, não vinha grande mal ao mundo, bem pelo contrário. Só se lamenta os milhões já gastos em projectos, pareceres e expropriações, tudo por causa da megalomania governamental.
Todavia, de um facto podemos ter a certeza: o TGV não pára, mas também não arranca. Ou dito por outras palavras: o governo jamais dirá que tal obra – mais uma PPP, para mal dos nossos pecados – é, ad eternum, suspensa, reafirmando, sim, que os estudos para a viabilização da mesma se encontram a decorrer e em bom ritmo. Acontece, porém, é que, por uns bons anos, estes nunca verão a luz do dia e, por conseguinte, o TGV, a cruzar a planície alentejana, não passará de uma miragem.
Aliás, esta história de não anda, mas faz que anda, recorda-me uma anedota que se contava no tempo da ex-URSS, de má memória. Um aluno, quando interpelado pelo professor para que desse um exemplo de um animal que voasse, aquele respondeu logo: o crocodilo. Como é lógico, o docente repreendeu o aluno, dizendo-lhe que nunca tinha ouvido disparate tão grande e muito gostaria de saber quem lhe tinha ensinado tal. O discente, sem mostrar qualquer temor, logo retorquiu dizendo que tinha sido o pai. O professor, muito admirado, perguntou o que fazia o pai, ao que o rapazito respondeu que era inspector-chefe da KGB. Reacção instantânea do docente: pronto, pronto, tens razão, tens razão. Afinal, agora, recordo-me que os crocodilos voam, voam, mas voam muito baixinho.
Assim, enquanto José Sócrates estiver à frente do governo deste país, o TGV será sempre para avançar … no papel.