Quando escrevo estas linhas, está no auge a discussão sobre o Orçamento de Estado para 2011, isto é, dois dias depois da ruptura das negociações do mesmo entre o governo e o PSD. Hoje, porém, quando existem perspectivas do reatamento das aludidas negociações, faço votos para que estas palavras percam rapidamente actualidade, sinal de que o mencionado Orçamento, apesar de ser muito mau, irá ser aprovado na AR. Contingências de quem redige num tempo de extrema volatilidade.
Mas vamos ao que interessa. Portugal é, neste momento, um país com uma grande experiência e sensibilidade de como deve funcionar em tempos de crise. Desde os primórdios da nacionalidade, de uma forma contínua e eficaz, tem reformulado os objectivos, orientando-os para superar os novos desafios, os quais concorreram para o desenvolvimento do país, evidenciando, em certas épocas, grandes sucessos. Recordo, por exemplo, o boom que foram os Descobrimentos.
O seu modo de reinventar a economia, a curto e a médio prazo, sem pressa e sem pausas, e independentemente das épocas de crise, fortalece o caminho. Por isso, não admira o país – p.f., não confundir com o governo – possuir, em determinados sectores, elevada tecnologia (de ponta) e ter implementado, nalgumas áreas, inovação, internacionalmente reconhecida. Aliás, não é por acaso que o país está absolutamente convicto de que a filosofia que, no passado o orientou e o alcandorou a tão altos patamares – recordo que, conforme disse o poeta, demos mundos ao mundo -, representa, ainda hoje, uma forte contribuição para soluções cada vez mais eficientes.
Também não é menos verdade que temos dado, principalmente na última meia dúzia de anos, fruto de um descontrole total das finanças públicas, um extraordinário impulso na liderança do decrescimento económico, no aumento do desemprego e da corrupção, respondendo, de forma ineficaz e descrente, aos justos anseios dos portugueses, numa óptica de insustentabilidade e de ineficiência produtiva, colocando o nosso país num patamar, quase que diria, desprezado pelo resto do mundo.
Aliás, também não é por acaso que Portugal se encontra, no rol dos países europeus, entre os menos desenvolvidos, desencontrando-se, deste modo, com os grandes objectivos estratégicos das grandes empresas internacionais, fazendo-as sentir receosas de aqui investirem, dando, assim, azo a uma reduzida ou nula cooperação.
Tudo isto nos contrista, nos coloca cabisbaixos e temerosos, pois as melhores sinergias são desbaratadas e, consequentemente, apenas nos resta esperar os piores resultados para mal do nosso futuro.
Por fim, uma palavra de alento. Possuímos oito séculos de história, sem guerras inter-regionais e com as fronteiras há muito definidas, dados mais que suficientes para que, sem margens para dúvidas, nos possamos consciencializar de que temos fundações para sairmos desta crise, por muito grande que seja e, em boa verdade, é.