Assim, a cada risco, a cada tom, a cada lugar vazio e logo me assalta a ideia de como o teu olhar, na realidade, verá a obra e intersectará com o meu. E depois como me conheço melhor que ninguém, não admira que seja mais exigente comigo mesmo, pelo que guardar e estampar o teu verdadeiro sentir é privilégio que, infelizmente, nem sempre alcanço.
Nunca me canso do teu olhar e, acima de tudo, de o contemplar. Todos os dias noto um quadro diferente. O céu muda de cor todos os dias e a fotografia fica muito aquém da beleza diariamente transfigurada, pelo que jamais, por muito que me esforce, conseguirei registar todas as suas tonalidades. Assim também és tu. Palete de cores impossível de alcançar.
Recuso, por princípio, programas pré-estabelecidos e, por isso, gosto das coisas que surgem naturalmente. Foi, deste modo, que construí a história da minha vida: com os livros, os objectos, as viagens e os quadros que, pouco a pouco, escrevi, coleccionei e pintei sobre ti.
Porém, de uma coisa tenho absoluta certeza. Independentemente dos quadros que pintar e dos livros que escrever, quero que os mesmos representem sempre o refúgio, o local ao qual gosto de regressar e gozar o sossego e o conforto de que necessito.
Hernâni de J. Pereira