Por analogia, posso dizer que todos nós necessitamos de «vento», seja para levar o barco a bom porto, seja para separar o que está a mais em nós. Todavia, é conveniente que aquele não seja demasiado forte, violento até, pois arriscamo-nos a que leve não só o supérfluo como também o essencial. Como em tudo na vida, no meio é que se encontra a virtude.
E estes dias, em que o vento tem soprado com alguma intensidade, têm proporcionado óptimos momentos com vista à desagregação do que de menos bom, ao longo dos anos, quer por comodismo e inércia, quer ainda por imposição social e/ou familiar, fomos acumulando sobre nós e mesmo em nosso redor. Como dizia, o outro dia, o horóscopo não acredito em bruxas, mas que as há, há é a ocasião certa para desempoeirar.
Por fim, é bom lembrar que o princípio do benefício, que justifica o «jogarmo-nos contra o vento», com vista a separar o «trigo do joio», se aplica a todas as pessoas. A verdade é que a sociedade continua a evidenciar dinâmicas muito próprias e vivas, as quais, devido a inúmeros factores sejam eles de ordem psicológica, de ordem financeira, legal ou social, demonstram que a opção pelo «despir do fato em cujos bolsos apenas repousa entulho» é algo que acarreta incómodos e incompreensões, necessitando, por isso, de muita coragem e força de vontade para levar avante tal propósito. Sobretudo, porque, para muitos, ainda é válida e legítima a opção pelo status quo. Contudo, para estes últimos, recordo que pior que errar é ter medo de errar.
Hernâni de J. Pereira