A doação e o pensar no outro parecem, hoje-em-dia, coisas do passado. O considerar que a casa do vizinho necessita mais que a nossa é, salvo raras e honrosas excepções, algo inusitado.
E estamos a falar de algo que nos rodeia, que vemos, sentimos e muitas vezes odorizamos diariamente, apesar de olharmos para o lado e encolhermos os ombros, numa atitude do género «não é nada connosco». Por que se começarmos a meditar em locais mais distantes, tais como África, Ásia ou mesmo em países subdesenvolvidos da América Latina, então nem equacionamos sequer.
Todavia, situações existem que, por vezes, nos atingem pena que sejam raras com tal violência que mais parecem murros no estômago.
E é contra esta letargia que o Papa, Bento XVI, reafirmou perante a Conferência Anual da FAO Organização das Nações Unidas para a Fome e Alimentação a necessidade absoluta de lutar contra a indiferença em que se está a transformar a fome no Mundo.
Preocupamo-nos, e bem, com as questões da ecologia, da liberdade de expressão, do armamento e da corrupção, esquecendo que tais atributos estão indissoluvelmente associados à falta de alimentos para milhões e milhões de nossos semelhantes.
Hernâni de J. Pereira