Pela responsabilidade que tenho no actual sistema educativo, tenho procurado, o mais possível, manter afastado deste espaço todas as questões relativas àquele. Não por receio de manifestar a minha opinião, mas essencialmente por me achar actor e actor, de certo modo, privilegiado e, assim sendo, por incerteza de que a mesma não seja imbuída da necessária distância que ao comentarista se exige.
Porém, ultimamente toda a gente alvitra sobre as designadas aulas de substituição. E, por isso, não resisti a dar também o meu parecer. Eis, pois, o que uma ou outra vez já afirmei em termos reservados e agora torno público:
a) As aulas em questão são impropriamente designadas por aulas de substituição, uma vez que, no fundo, são aulas de ocupação dos alunos, pois aquelas possuem um perfil e carácter muito diferente e são pagas, com toda a lógica, como serviço extraordinário, já que, quando acontecem, prosseguem um plano de aula deixado pelo titular da disciplina, o que não acontece com as segundas.
b) As tais aulas de ocupação só acontecem devido às ausências de outros professores, os quais se valem dos tais 57 motivos para faltar (ver a propósito
http://dn.sapo.pt/2005/11/20/opiniao/captura_estado_pelas_corporacoes.html). Se os docentes fossem mais responsáveis, muita desta polémica cairia pela base.
c) Os alunos estão sempre melhor dentro da sala de aula do que no recreio, mesmo que durante esse espaço de tempo façam palavras cruzadas, dialoguem sobre este ou aquele tempo, joguem ao soduku, etc., etc. A não ser que queira dar razão aos alunos que afirmam que agora já não têm tempo de namorar.
d) Enquanto primeiro responsável pela minha escola nunca solicitei, por exemplo, a nenhum docente de inglês que fosse dar uma aula de educação física ou vice-versa, tal como não acredito que algum dos meus colegas de outras escolas ou agrupamentos o tenha feito. O que pedi, peço e continuarei a pedir, pois acredito em tal projecto, é que, na medida do possível, se preparem para ocuparem os alunos que, por meio de critérios pedagógicos, lhes caibam. Daí o apelo veemente para que nas horas que passam na sala de professores, biblioteca, etc., a aguardar eventuais ausências dos colegas, preparem maletas pedagógicas.
e) O que sei, por ter feito também as ditas ocupações, apesar das minhas funções de gestão, é que, desde que dadas com sentido de responsabilidade, as aludidas aulas podem atingir um carácter muito distinto e prestigiante. Só é necessário partir com o coração aberto e pronto a dizer/fazer algo com os jovens.
f) A experiência de 28 anos ensinou-me que qualquer que seja a medida, o início da sua aplicação é sempre problemático e tormentoso. Quem não se recorda da reforma de Roberto Carneiro, do Estatuto da Carreira Docente, agora tão acerrimamente defendido, do Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos de Ensino (D.L. nº 115-A/98), da reorganização curricular de 2001, etc., etc.? Nesses momentos, registaram-se igualmente greves, protestos de rua e demais lutas político/sindicais.
g) Comungo da ideia que o momento é angustiante para os professores. Foram anos e anos de alguma má prática, de algum laxismo e contrariar isso é penoso. No entanto, muito mais doloroso é ver o aproveitamento político/sindical de tal situação. É indecoroso
Hernâni de J. Pereira